sábado, 17 de setembro de 2011

MUDANÇA DE CURSO

Há uma preocupação que cresce nos meios universitários: é grande o número de estudantes que mudam de curso, ou seja, supostamente fizeram uma opção equivocada
e buscam retificá-la. Certamente que esta situação onera os cofres da universidade pública e nos põe a questionar sobre as causas deste problema.
Acho que podemos pensar em muitos aspectos que contribuem para que isto aconteça.
Podemos pensar, e este é o argumento mais utilizado, na pouca idade dos jovens que ingressam na universidade, que muitas vezes tem 16, 17 anos, e, segundo os adeptos deste argumento, não teriam maturidade para fazer uma escolha profissional.
Penso que a questão não se resume à faixa etária dos jovens, mas se estende à própria
família e sociedade que não conseguiram embasá-los e muni-los de recursos para escolher bem, para definir seus projetos de vida. A própria universidade parece não estar preparada para lidar com esta questão, já que sua estrutura não dispõe de mecanismos que pudessem alterar este quadro, como, por exemplo, a formação interdisciplinar nos primeiros semestres, favorecendo e dando condições aos jovens de tomarem suas decisões num processo mais gradual e coerente.
A sociedade contemporânea rege-se pelo pragmatismo e pelos valores de mercado, o que se reflete numa tendência mais objetiva, menos utópica por parte da juventude. O jovem tende a objetivar a escolha da profissão, que acaba por se realizar com pouca base subjetiva. A busca da informação tem primazia sobre a do autoconhecimento. A busca do sucesso e da ascensão econômica prevalecem sobre a da felicidade.
Antigamente os pais “metiam-se” mais nas escolhas dos filhos. A tendência liberal da modernidade vem se acentuando e gera uma sociedade desbussolada, onde faltam as referências. O discurso dos pais é : “ Faça o que você quiser, o importante é que você seja feliz”, o que na verdade só contribui para jogar o jovem no desamparo, na solidão e, mais, na obrigatoriedade de ser feliz, gerando inevitáveis e violentas pressões naquele que precisa traçar o rumo para sua vida, e que, para cumprir tão importante tarefa, certamente precisaria sentir-se acompanhado, orientado.
Outra questão é a crescente e incessante multiplicação das opções disponíveis no mercado. Elas proliferam num ritmo estonteante, acarretando muitas vezes desorientação e confusão.
Tendemos também a julgar a mudança de opção como “erro”, como algo que não deveria acontecer. Quantas vezes, independente da idade, da maturidade que se tenha, precisamos ou queremos mudar de curso na vida ?