segunda-feira, 14 de novembro de 2011

OS SEGREDOS DO OLHAR

No filme argentino “O Segredo dos seus Olhos”, existe uma impressionante combinação de beleza e violência, passado e presente, uma boa história e uma belíssimo trabalho dos atores. O protagonista, um promotor aposentado, decide escrever um livro sobre um crime brutal ocorrido em seu passado profissional. O personagem revê, durante a trama, a sua compreensão do caso, a sua relação com a ex-chefe, pela qual foi sempre apaixonado, e sua própria atitude perante a vida e perante o amor. A intensidade do olhar permeia as cenas do início ao fim, seja na cena do crime, nos encontros dos dois protagonistas, que acontecem em dois momentos de vida diferentes, ou mesmo na pista para a descoberta do assassino, que se revela pelo olhar. Por fim, a revisão do caso propicia também um novo olhar sobre a vida.
Se nos construímos como sujeitos nos laços com os outros, o olhar tem um caráter essencial nessa construção. O bebê recém chegado ao mundo, ao viver a primeira experiência de separação, reencontra-se com a mãe num enlace de olhares. Olhos nos olhos, tem suas primeiras sensações sobre a vida, e recebe, através desse olhar, um “recado”, uma mensagem que a mãe lhe transmite. É também pelo olhar do outro que aprendemos a nos ver. Esta imagem que o outro nos devolve com seu olhar vai nos dizendo quem somos. Na adolescência, buscamos outros olhares , desde outros que não nossos pais a nos dizerem quem somos, até a visão outra que precisamos alcançar do mundo, numa perspectiva própria.
O personagem do filme empreende um doloroso mergulho em seu passado, perseguindo a elaboração de situações que ainda careciam de ser significadas, e renova-se libertando-se de seus bloqueios. Bonita a cena em que ele, ao olhar a palavra que havia rabiscado num pedaço de papel, à cabeceira da cama, palavra lida já tantas vezes, sorri e lhe acrescenta uma letra, transformando “temo” em “te amo”. Ele sai, então, decidido a viver seu amor. Ela lhe diz:" Vai ser complicado." "Não me importo", diz ele.
É sempre tempo para olhar com outros olhos, buscar uma diferente visada, ou diferentes campos para alcançar com nossa visão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011



A instigante obra do surrealista René Magritte, que nos remete ao sonho e à utopia