sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

UM NOVO SENTIDO

Fazia minhas compras semanais no supermercado. O mesmo de sempre, perto de minha residência. Estava tomada por essa pressa de concluir mais uma de minhas tarefas habituais, essas que preenchem nosso tempo repetitivamente. Colocar no carrinho cada mesmo produto, percorrer os corredores na ordem já estabelecida pela rotina. Impressionante como coisas a serem feitas se impõem como prioritárias a nos distrair do sentido da vida... A repetição se instala no lugar da criação, da novidade. No corredor dos refrigerantes reparei que não havia fardos de garrafinhas pequenas, das que costumo comprar. Ocupado em organizar as prateleiras, vejo um rapaz que veste o uniforme do supermercado. Logo me dirijo a ele, perguntando sobre o produto em falta. Ele me olha e vejo uma certa incomodação em seu olhar. Me faz um sinal através do qual compreendo perfeitamente que ele é surdo-mudo. Ele me faz este sinal logo voltando às suas atividades, num claro indício de sua exclusão. Era perceptível para mim o desagrado do rapaz, acostumado a cumprir sua sina de ausência. Ele logo se afastou, de um modo brusco, que me perturbou. Fui até ele, então, dei uma cutucada em seu ombro, e usando gestos simples, comuniquei a ele o que eu precisava. A expressão de surpresa, espanto que vi em seu olhar foi interessante. Aqueles momentos preciosos em que a repetição abre espaço para o inesperado. O rapaz me respondeu imediatamente com um sinal para que eu esperasse, e correu a buscar o fardo de refrigerantes no depósito. Quando voltou, fiz-lhe um gesto de agradecimento e seu jeito mau-humorado havia se transformado numa expressão simpática. Naquele breve contato, algo de novo aconteceu, desacomodando as rotinas, as coisas de sempre, o mesmo olhar sobre a vida que se transforma em uma nova visão.

terça-feira, 16 de abril de 2013

quinta-feira, 11 de abril de 2013

TEMPO DE VOAR, QUIM ALCANTARA

SURPRESAS COM O TEMPO

A relação humana com o tempo é carregada de angústia, de frustração, de ansiedade, de exigências... O tempo, esse invisível companheiro, nos braços de quem nos deitamos tão sossegadamente às vezes, no descanso, no sono confiante de quem se permite entregar, com serenidade, ou mesmo com indolência, com preguiça ou despreocupação, mas por outras tantas vezes nos encontramos como que a persegui-lo, num injusto e desigual enfrentamento. A nossa reincidente questão com a falta ele nos expõe, como uma ferida... Nos vemos a acusá-lo de nos faltar, sempre nos faltar. Quando a verdade que escondemos de nós mesmos é a inquietante essência da qual somos feitos. Nós é que nos fazemos de falta. Impossível a nossa completude, a nossa perfeição. Muitas vezes elegemos a pontualidade de um momento da vida para exigirmos dele uma escolha, uma realização, um passo a dar, uma conclusão a tirar, um percurso a concluir. Tomados de ansiedade e de ilusórias certezas, achamos que aquele é o instante destinado a este salto. O calendário, a agenda, o relógio, o tempo tem que ser alcançado... Pois é ele, o tempo, que, em sua maravilhosa capacidade de surpreender-nos, nos avisa, talvez quando achemos fora de época, ou talvez quando nos apanhe meio despreparados(ou preparados), que não marquemos hora, que não sejamos tão senhores da situação, que não nos preocupemos em estar no controle, e, quando formos assim surpreendidos, estaremos diante de um instante criativo, capaz de nos recompensar e de nos renovar as forças e alegrias. Porque é tudo, na vida, a seu tempo...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

No vídeo abaixo, a música para os ouvidos, a música para a alma. Eduardo Galeano sempre nos provoca com suas palavras a pensar no mundo em que vivemos e a querer viver o mundo que pensamos. Digo música, porque ele escreve de uma forma poética, a beleza de seu texto, como a melhor das poesias, mira um mundo melhor, tem um compromisso permanente com a mudança. É sempre tocante, comovente, inquietante para mim. Neste vídeo ele fala sobre a utopia, que serve, segundo nos diz, para caminhar. Para todos nós, que estamos, neste final de fevereiro com a sensação de mais uma caminhada que começa, para que nos valha como inspiração,para que nossas escolhas visem, corajosamente, transformar o mundo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O LISTÃO E O DESAFIO DA VIDA

Com a proximidade da divulgação do listão da UFRGS, neste final de semana, os vestibulandos vivem mais um momento em que se vêem com a ansiedade, com a angústia e com suas expectativas e as expectativas dos outros, com seus medos e suas fantasias. E somos todos fabricantes de fantasias. É aí que cada um toma um rumo muito singular, cada um com sua fabricação própria. E nos repetimos, nos vemos fazendo certas mesmas coisas, pensando certas mesmas coisas, falando algumas mesmas coisas, que muitas vezes nos aborrecem, nos cansam... Tenho que passar porque preciso fazer meus pais felizes, preciso passar para que meus pais me valorizem, não passei porque não sou inteligente, todos vão passar menos eu, enfim, as fantasias que crescem dentro de nós, e passam a ser tema dos roteiros que protagonizamos dia a dia. Os resultados que estão por ser divulgados, por mais que sejam tão importantes para cada vestibulando, não resultam na vida. Aí aquela frase bem conhecida “a vida segue”, cai bem. Algo maior, muito maior, que tem a ver com nossos ideais, nossos projetos, o rumo que queremos dar a nossa existência...Este é o nosso verdadeiro desafio. O sentido que vamos dando ao nosso viver.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

VESTIBULAR

Vestíbulo, aquele tradicional recinto dos prédios ou casas por onde somos introduzidos, aquele que nos dá o acesso ao seu interior, onde nosso destino, ser ou não admitidos a adentrá-la, esperar muito ou pouco, quem sabe não esperar, já entrando de imediato. No caso da espera, a ansiedade, a angústia, geralmente acometem aquele que tem intenção de entrar. Conseguirá entrar ou ficará de fora? Quanto tempo terá que esperar? Alguém entrará ou entrou antes? Enfim, o imaginário, as fantasias, brotam... Vestibular, o sistema de avaliação que permite o ingresso no ensino superior. Ou que proporciona o ingresso a uma etapa introdutória ao mundo adulto, na qual estão em pauta questões essenciais como projetos, estratégias, planos, fundamentos de uma ideologia, de um modo de pensar e viver a vida, de tomar seu lugar, fazer a sua parte, cumprir o seu papel. Vemos logo que não se trata de simplesmente conseguir entrar. Algo maior, que traz consigo a reflexão em torno da verdade do sujeito, de afinal o que ele está querendo da vida, o que ele vai fazer com ela, é isto. Talvez por isso mesmo uma certa ansiedade seja inevitável. Sinal da importância reconhecida deste momento. Por isso, leve consigo, caro vestibulando, nos dias de prova, e para a vida afora, a noção que você tem de estar construindo seu projeto autônomo, seu jeito próprio de estar no mundo, e procure ter em mente que algo dessa grandeza não se dá em quatro dias de prova. Não tem uma pontualidade, é um processo, durante o qual contamos com nossa paciência, nossa perseverança, nossa coragem, nosso conhecimento sobre nós mesmos e sobre a realidade que nos cerca, e do que aprendemos o tempo todo a fazer com isso.