sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
UM NOVO SENTIDO
Fazia minhas compras semanais no supermercado. O mesmo de sempre, perto de minha residência. Estava tomada por essa pressa de concluir mais uma de minhas tarefas habituais, essas que preenchem nosso tempo repetitivamente. Colocar no carrinho cada mesmo produto, percorrer os corredores na ordem já estabelecida pela rotina. Impressionante como coisas a serem feitas se impõem como prioritárias a nos distrair do sentido da vida... A repetição se instala no lugar da criação, da novidade.
No corredor dos refrigerantes reparei que não havia fardos de garrafinhas pequenas, das que costumo comprar. Ocupado em organizar as prateleiras, vejo um rapaz que veste o uniforme do supermercado. Logo me dirijo a ele, perguntando sobre o produto em falta. Ele me olha e vejo uma certa incomodação em seu olhar. Me faz um sinal através do qual compreendo perfeitamente que ele é surdo-mudo. Ele me faz este sinal logo voltando às suas atividades, num claro indício de sua exclusão. Era perceptível para mim o desagrado do rapaz, acostumado a cumprir sua sina de ausência. Ele logo se afastou, de um modo brusco, que me perturbou. Fui até ele, então, dei uma cutucada em seu ombro, e usando gestos simples, comuniquei a ele o que eu precisava. A expressão de surpresa, espanto que vi em seu olhar foi interessante. Aqueles momentos preciosos em que a repetição abre espaço para o inesperado. O rapaz me respondeu imediatamente com um sinal para que eu esperasse, e correu a buscar o fardo de refrigerantes no depósito. Quando voltou, fiz-lhe um gesto de agradecimento e seu jeito mau-humorado havia se transformado numa expressão simpática. Naquele breve contato, algo de novo aconteceu, desacomodando as rotinas, as coisas de sempre, o mesmo olhar sobre a vida que se transforma em uma nova visão.
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