terça-feira, 23 de junho de 2015

NÓS, OS GERENTES

Exercendo meu hábito de leitura diária de alguns sites de notícia, que, aliás, misturam fatos relevantes da política e do cotidiano com irrelevâncias como o último ensaio fotográfico de alguma atriz, as férias de algum famoso em algum lugar do mundo, ou as fofocas acerca da vida íntima de algum ator, deparo-me com a entrevista de uma conhecida atriz global, que, além de atualizar os internautas a respeito de um procedimento estético que havia feito recentemente, comenta sobre as atribulações do dia a dia, das dificuldades que a burocracia impõe a todos nós, e tudo o mais, e acaba por comentar sobre um curso que havia feito de gerenciamento de stress, que ela passa então a elogiar e propagandear. O que me chamou atenção foi esse termo, "gerenciamento de stress". Parece que a vida contemporânea nos transforma a todos em gerentes. Desprovidos, nós, homens e mulheres da modernidade avançada, de um norte, das referências herdadas da tradição, confrontados à incessante multiplicidade de escolhas a fazer ("a vida é feita de escolhas"), à angustiante necessidade de nos fazermos a nós mesmos, de nos fabricarmos, acometidos pelo stress, pela angústia e pela insegurança, ainda assim teremos que ser gerentes... Gerentes de crise, gerentes de finanças, gerentes de carreira, gerentes de stress... A angústia dos jovens frente à escolha profissional, bem como dos adultos, profissionais maduros, está muito determinada por esse "papel" que a sociedade contemporânea lhes aponta como fundamental, esse de ser um bom gerente. Faça o que quiser, mas seja um gerente bem sucedido, a responsabilidade sobre os rumos, as estratégias e os objetivos a alcançar são de sua alçada. A urgência de sucesso, de felicidade, de soluções criativas em nossa época é realmente um importante fator de pressão emocional, de onde deriva esse interesse tão acentuado nessa figura, ou nesse papel do gerente bem sucedido.