quarta-feira, 21 de abril de 2010

O TRABALHO E SUAS CONTRADIÇÕES

A palavra trabalho, de origem latina, do vocábulo "tripalium" antigo instrumento de tortura utilizado pelos romanos, marcou fortemente o significante com a sina da violência, da brutalidade e da indignidade que a história lhe conferiu, ao longo dos tempos. Por mais que a Modernidade e a moral burguesa tenha proclamado a dignidade do trabalho e, com isso, tenhamos adquirido a possibilidade de associarmos o trabalho à ação humana extremamente avançada em termos técnicos e engendrada em sofisticadas redes de relações, ou que possamos ter hoje cenários e ambientes de trabalho confortáveis e prazerosos, e por isso se possa falar e pensar em felicidade no trabalho,é invitável que ele conserve este registro de crueldade, penalidade e sofrimento.
Pode-se dizer que, ao longo da história, foi no trabalho que o homem se humanizou, e no trabalho foi também que o ser humano experimentou, paradoxalmente, sua condição mais degradante e desumana.
As origens mais remotas do trabalho coincidem com as próprias origens da humanidade. O primeiro trabalhador foi o longínquo homo faber, ancestral hominídio que um dia criou e manejou instrumentos com seu corpo, com a finalidade de sobreviver e modificar a natureza.Temos aí a origem humana e criativa do trabalho.
Seja na escravidão do Mundo Antigo ou na servidão medieval, foi o trabalho dessa massa de homens que nem sequer como tal eram considerados, que gerou o sustento e produziu a riqueza da sociedade ocidental.O óscio, nessas sociedades, era considerado o grande privilégio ou direito de uma camada social distinta por sua dignidade e superioridade. Foi a sociedade capitalista que inventou o neg-ócio - a negação do ócio, conferindo, assim, novos sentidos ao trabalho humano.
Podemos ver que o trabalho, por suas determinações históricas, está, portanto, marcado por forte ambivalência e contradição. Por um lado, esta sina que caminha pela via da escravidão humana, do trabalho indigno, do trabalho alienado e sem sentido, da falta de oportunidades, da usurpação do homem pelo homem, que, longe de terem sido páginas viradas na história, compõem, ainda nos dias de hoje, o cenário de gigantescas e brutais contradições presentes no mundo em que vivemos. E por outro lado, caminha a ação criativa promotora do crescimento e do desenvolvimento humano, que nos permite, sempre, conferir sentido ao nosso viver, modificá-lo e recriá-lo.

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