Recentemente, durante um encontro com pais de alunos de uma escola onde fui convidada a falar sobre adolescência, um dos presentes lançou esta pergunta: como saber o que é normal e o que não é? É evidente que o pai em questão referia-se ao adolescente saudável e o adolescente que mereceria uma preocupação a mais ou mesmo uma indicação terapêutica. Pensando assim, em termos de saúde emocional, podemos pensar que pode ser preocupante o adolescente que não se rebela, que não questiona, que não se diferencia, já que a consolidação da identidade passa necessariamente por essas tensões.
Agora, sobre a palavra normal, aquilo que está dentro da norma, é de se pensar como fica a normalidade numa sociedade em que cada vez mais nos distanciamos da norma, da tradição, da lei. A Modernidade Líquida, segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ou a pós- modernidade, esse tempo que é o nosso, esse mundo desestabilizado, mundo sem certezas, sem modelos a seguir, mundo das inesgotáveis possibilidades em oferta, parece não ser exatamente o espaço propício para o “normal”. Se na Modernidade a experiência da desestabilização estava associada à loucura , à doença e ao fracasso, no mundo de hoje a instabilidade, a frequente e inevitável necessidade de reconfigurações a que são submetidas as subjetividades, e a consequente fragilização que acomete os sujeitos agora se generaliza, acercando-se de uma normalidade. As subjetividades, no contemporâneo, são constantemente bombardeadas pelos mass mídia, as propagandas infindáveis que nos invadem a qualquer momento em casa, nas ruas, na tela do computador, as mensagens do capitalismo mundial integrado a nos induzir a comprar, os produtos que nos seduzem e que tão rapidamente esgotam suas validades e precisam ser substituídos numa corrida incansável contra a defasagem, numa luta incessante para manter a sensação de fazer parte, de estar atualizado, não ficar à margem de toda essa engrenagem. Difícil dizer o que é normal num mundo tão frenético que por si já nos remete a alguma insanidade.
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