As escolhas possíveis são infinitas. Surgem e ressurgem, somam-se às já existentes, ou as fazem caducar, tornando-as obsoletas. Mais, mais e mais... A confundir, a angustiar, a fazer pensar, a não saber o que fazer... ou a nos servir, calhar-nos mais ou menos adequadamente, mais ou menos felizmente. A instigar nosso desejo. A elas temos que dizer sim, não, ou talvez, quando o prazo permite... Quando simplesmente achamos ter feito uma boa escolha, alguma outra possibilidade surge a nos provocar: não teria sido melhor? Teríamos feito a coisa certa?
Enfim, o mundo contemporâneo é este caldeirão de infinitas possibilidades, que se apresentam com a velocidade estonteante que dita o ritmo de nossos dias. Os automóveis, as tecnologias, as modas, as profissões, especializações, as aplicações, publicações, os roteiros de férias, os shopping centers, restaurantes, os lanches da propaganda, a roupa e o cabelo, as cores do ano, os sapatos da última coleção... Queremos muito, queremos mais, queremos exercer nosso direito de escolha.
A grande contradição reside, porém, no modo como somos “escolhidos” pelo sistema capitalista integrado, pela mídia, como somos cooptados full-time enquanto nos sentimos livres. Sim, enquanto nos sentimos livres, como bons modernos, temos o olhar capturado em hipnose pelas telas brilhantes a nos empanturrar de imagens e discursos. Rápido, já que amanhã é outro dia... A grande contradição é esta. Somos “escolhidos pela mega fábrica de subjetividade que nos ronda, nos invade, nos submete. Enquanto nos sentimos livres...
Contraditórias também são, por um lado, as pressões nosentido de igualar, homogeneizar, consumir, ” clique aqui e compre já”,” ajuste-se ao ideal capitalista de hoje”, e, bem por outro lado, a tendência individualizante, singularizante. Por um lado, sejamos todos iguais, necessariamente, como quer o mercado, a mídia, o capitalismo globalizado. Ao mesmo tempo, as identidades vêem-se cada vez mais em busca de suas diferenças, esforço tão mais árduo quanto mais submetidas estiverem à massificação.
Deste modo, nossas escolhas são permeadas por inevitáveis angústias e temores. Ansiamos por resgatar nossas certezas, e, muito pelo contrário, não localizamos o norte da bússola a nos orientar. Ainda mais do que sempre, precisamos contar com nossos recursos próprios, nossa coragem, nossa capacidade criativa e, é preciso salientar, nosso senso ético e de responsabilidade a guiar nossos caminhos, nossas escolhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário