quarta-feira, 9 de março de 2011

A FELICIDADE

Num mundo hedonista como este em que vivemos a busca do prazer não tem trégua.E ainda quando, percorrida a trilha, realizados os esforços, pensamos ter alcançado a linha de chegada, percebemos, cheios de humana frustração, que há mais caminho a percorrer. A consumação do almejado prazer está sempre mais adiante, num horizonte que nos parece inalcançável.Nós, homens e mulheres deste pós-moderno mundo, estamos sempre a nos deparar com a frustração, e com a distância sempre renovada entre o que queremos e o que podemos, entre o que desejamos ter e o que conseguimos , entre o que gostaríamos de ser e o que realmente somos.E aí estamos nós, com a sensação de estarmos sempre atrás de nós mesmos. A tão sonhada felicidade não passará de tema de novela ou de comercial de televisão?
Freud já dizia em "Mal Estar na Civilização" que todo programa do princípio do prazer é impossível de ser executado,já que todas as normas do universo são-lhe contrárias.Três são as fontes que ele aponta neste texto brilhante e sempre atual para explicar o sofrimento humano: o poder da natureza, a fragilidade humana, e a relação com os outros. A civilização, há milhares de anos atrás, transformou o animal em homem por meio da renúncia aos instintos e do trabalho.
Na vida humana,pode-se ver, essa questão da felicidade é sempre uma grande armadilha.É assim que caímos na armadilha quando confundimos felicidade com prazer absoluto, ser feliz com ser capaz de obter algum desses objetos que a indústria e o mercado travestem de objetos do desejo, quando temos a ilusão de que seremos felizes se nada nos faltar. Pois o humano se constitui nas faltas, no imperfeito, naquilo que não é o ideal. Mas que é.
Bem,acho que é justamente neste campo que a Psicanálise e a psicoterapia podem operar. Acompanhando o sujeito na sua busca pela felicidade. Essa felicidade possível que experimentamos no momento do encontro com a nossa verdade,encontro este tão mais feliz quanto mais pudermos reconhecer-nos em nossas possibilidades, e nos arranjarmos o quanto melhor pudermos com aquilo que somos. A felicidade inclui, ainda, a capacidade de ir além da descoberta de si mesmo. Ser feliz é também incumbir-se da missão de colocar no mundo esta descoberta.

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