É freqüente se ouvir dizer “ desde criança eu queria ser ...” quando se trata da escolha da profissão. Proponho que pensemos aqui se realmente estas escolhas infantis correspondem ou mesmo determinam as posteriores, ou as escolhas profissionais definitivas- se é que se deve denominá-las assim, já que sempre é tempo de questionar nossas escolhas, mesmo que as mantenhamos ou reafirmemos.
As brincadeiras infantis tem a função importante de contribuir para a construção ou constituição do sujeito. Não me refiro aqui somente àquelas tão facilmente associadas à meninos e meninas, como o brincar de carrinhos ou o brincar de bonecas. O brincar pode abranger desde os primeiros movimentos de mãozinhas que exploram o próprio corpo e o corpo do outro, mãozinhas que arranham os próprios rostinhos, dedinhos que avançam ameaçando” furar” o nariz, as orelhas, os olhos, que puxam cabelos, brincos e correntes, no exercício da identidade corporal. É assim, nessas primeiras e fundamentais bricadeiras, que o bebê vai constituindo seu próprio corpo, suas primeiras raízes de identidade. Brincar não é só brincadeira. É coisa muito importante para uma criança.
É no brincar que a criança elabora suas dificuldades emocionais, encenando na brincadeira o enredo de sua vida .Crianças que não brincam geralmente estão muito doentes. Todas as crianças brincam de médico, de professor, de mamãe e de papai, de loja, de motorista, de artista, enfim, são muitos os papéis que elas assumem ao brincar. Claro que cada criança vai encenar o médico, o professor, ou seja qual for o papel, com características muito singulares, que dizem respeito ao seu contexto particular, às suas condições emocionais e à sua história, suas experiências de vida. A capacidade criativa e produtiva da criança é o próprio brincar.
O ser humano se fez humano ao trabalhar, isto desde os primórdios da sua história, assim como a criança se faz sujeito ao brincar. E desta forma, podemos compreender a relação destas duas atividades fundamentais do humano: o brincar da criança, o trabalhar do adulto.
A escolha da profissão está muito mais relacionada com as experiências que vivemos em nossas histórias, as identificações construídas em nossas relações, nossa personalidade, nossas habilidades e interesses construídos ao longo da nossa história.
Nosso projeto de vida, a escolha do papel que vamos desempenhar na sociedade, deve estar associado com aquilo que faz mais sentido para nós, o que faz a vida ter sentido.
No mundo inteiro muita gente trabalha. Muita gente não tem trabalho. Mas pouca gente tem o privilégio de professar sua ideologia, aquilo em que acredita, através do seu trabalho.
Gostei da analogia brincar/trabalhar. No ambiente bancário, onde trabalhava, quase não havia espaço para se professar sua ideologia. Nunca vi tanta gente falando mal do seu ambiente de trabalho, posto que não era ali seu lugar. No entanto, estávamos todos lá, por uma questão de opção de trabalho. Eu não tinha rancor ao banco, talvez porque tenha feito meus teatros, dado minhas aulas paralelamente. E assim são as pessoas... Parabéns pelo blog, sobrinha!
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