“Nosso tempo, sem dúvida, prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.”
Com essas palavras Guy Debord inicia “A Sociedade do Espetáculo”, obra na qual faz uma genial compreensão da nossa época, na qual as aparências, os invólucros, embalagens são cuidadosamente trabalhadas, detalhadas, aperfeiçoadas, em detrimento das essências.
A modernidade instituiu as diferenças, as pluralidades, desorganizando para sempre a ordem do mundo pré-moderno, onde a obviedade do lugar ocupado por cada homem e cada mulher no mundo era garantida e remetida à obra divina. Se a identidade era, neste mundo, tão óbvia, agora passava a ser uma obra pessoal, individual, uma construção.
Essa paradoxal relação do homem moderno e pós-moderno com a liberdade e com as diferenças evolui de tal forma no mundo contemporâneo a desnortear, tornando as escolhas não só difíceis, quanto não perduráveis por muito tempo, e a questão da verdade se esvai na busca por aparentar, representar, fazer boa imagem.
Zigmunt Bauman, em “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, nos fala: “ O mundo lá fora afigura-se ao indivíduo como um jogo, ou antes uma série de jogos finitos e episódicos, sem nenhuma sequencia definida e com conseqüências que não vinculam necessariamente os jogos que se seguem; e um jogo em que o próprio mundo é um dos jogadores...”
Em todas as épocas teorizou-se muito acerca da verdade, e o mito da caverna platônico, que desvenda por que e como alguns poucos escolhidos conseguem sair da escuridão da caverna e ver a luz, tem embasado os mais diversos pensamentos e teorias.
Mas parece que no mundo do espetáculo e da fluidez, onde nada tende a permanência, estamos todos a carecer da verdade. Fala-se : “Seja verdadeiro”, “ Seja você mesmo”, numa flagrante evidência de que não estamos muito ou nada seguros acerca de nossas identidades ou de nossas verdades. No ritmo acelerado da vida, estamos muito ocupados com os aspectos rotineiros que constroem nossos dias e pouco entramos em contato com o que é essencial. Ligados nos celulares, nas telas dos televisores, dos computadores, e desconectados de nós mesmos e do outro ao nosso lado.
Uma das missões de uma psicoterapia é justamente esta, a de restabelecer essa ponte com nossa subjetividade, com nossas questões, com nossos desejos. Com nossa verdade.
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