Os finais de ano nos impelem à repetição. Ou à invenção. Ao revivermos as tradições de Natal e Ano Novo, encontramo-nos fazendo mais uma vez tantas coisas que sempre fazemos nesta época, que temos que fazer, que alguém espera que façamos... A compra dos presentes, dos panetones, da decoração natalina, dos cartões que trazem palavras tão conhecidas, os votos renovados e replicados de felicidade.
E a felicidade? Nós, humanos, vivemos uma eterna contradição no que diz respeito à felicidade. Pelo simples fato de que nos falta sempre algo, algo que não conseguimos, algo que não dissemos, algo que não podemos, algo sempre nos faltará... Por isso somos seres desejantes. E que, fatalmente, temos que nos ver com essa falta...
Pois a felicidade talvez tenha mais relação com nos havermos com nossa incompletude do que com uma busca de supri-la... Ser feliz parece que tem a ver com esta mágica que rompe com a repetição, com a invenção de um jeito sempre incompleto de fazer algo interessante com essa nossa condição. Onde a falta, a imperfeição, sempre farão sua marca...
Ao desejar aos meus caros leitores um Feliz Natal e felicidade em 2012, estou a fazer-lhes votos de muita capacidade de fazer mágicas, de inventar, ao invés de repetir. E, necessariamente, de se responsabilizarem, arcarem com suas invenções...
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
sábado, 3 de dezembro de 2011
VIDA PRÓPRIA
Há um momento em que as mãos se desprendem dos braços de quem as ampara, e passos cambaleantes e inaugurais então acontecem.
Um dia, diante do espelho, a percepção da própria unidade, da diferença. Um corpo, outro corpo...
A descoberta da palavra não, o prazer de contrariar uma expectativa, de simplesmente desobedecer... Existe o sim, existe o não. Existe o um e o outro...
Também a ida para a praia, com a família, no verão. Um dia, não foi. Preferiu ficar. Mas é que sempre haviam feito esse passeio juntos... Pois hoje ficou, junto consigo mesmo...
As roupas preferidas da mãe foram desprezadas, a opinião do pai, contestada. A foto do porta-retrato, trocada.
Há sempre o dia em que se quer encontrar o próprio tom, a própria trilha, a própria zona de conforto... Nesse dia, o familiar se torna estranho, o estranho parece, então, familiar.
Não é indolor, todavia, esse processo. Há uma saudade que fica de fundo, remetendo ao que se foi, à cena antiga... E então segue-se em frente, e vão-se fazendo as descobertas, as aventuras, os bons momentos e as grandes emoções. A vida própria vai tomando seu jeito.
Em cada um desses pedaços de vida é decisivo o ato da escolha, que faz germinar o sujeito em cada gesto, em cada marca de singularidade.
Um dia, diante do espelho, a percepção da própria unidade, da diferença. Um corpo, outro corpo...
A descoberta da palavra não, o prazer de contrariar uma expectativa, de simplesmente desobedecer... Existe o sim, existe o não. Existe o um e o outro...
Também a ida para a praia, com a família, no verão. Um dia, não foi. Preferiu ficar. Mas é que sempre haviam feito esse passeio juntos... Pois hoje ficou, junto consigo mesmo...
As roupas preferidas da mãe foram desprezadas, a opinião do pai, contestada. A foto do porta-retrato, trocada.
Há sempre o dia em que se quer encontrar o próprio tom, a própria trilha, a própria zona de conforto... Nesse dia, o familiar se torna estranho, o estranho parece, então, familiar.
Não é indolor, todavia, esse processo. Há uma saudade que fica de fundo, remetendo ao que se foi, à cena antiga... E então segue-se em frente, e vão-se fazendo as descobertas, as aventuras, os bons momentos e as grandes emoções. A vida própria vai tomando seu jeito.
Em cada um desses pedaços de vida é decisivo o ato da escolha, que faz germinar o sujeito em cada gesto, em cada marca de singularidade.
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