Há um momento em que as mãos se desprendem dos braços de quem as ampara, e passos cambaleantes e inaugurais então acontecem.
Um dia, diante do espelho, a percepção da própria unidade, da diferença. Um corpo, outro corpo...
A descoberta da palavra não, o prazer de contrariar uma expectativa, de simplesmente desobedecer... Existe o sim, existe o não. Existe o um e o outro...
Também a ida para a praia, com a família, no verão. Um dia, não foi. Preferiu ficar. Mas é que sempre haviam feito esse passeio juntos... Pois hoje ficou, junto consigo mesmo...
As roupas preferidas da mãe foram desprezadas, a opinião do pai, contestada. A foto do porta-retrato, trocada.
Há sempre o dia em que se quer encontrar o próprio tom, a própria trilha, a própria zona de conforto... Nesse dia, o familiar se torna estranho, o estranho parece, então, familiar.
Não é indolor, todavia, esse processo. Há uma saudade que fica de fundo, remetendo ao que se foi, à cena antiga... E então segue-se em frente, e vão-se fazendo as descobertas, as aventuras, os bons momentos e as grandes emoções. A vida própria vai tomando seu jeito.
Em cada um desses pedaços de vida é decisivo o ato da escolha, que faz germinar o sujeito em cada gesto, em cada marca de singularidade.
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