domingo, 12 de agosto de 2012

AQUI É O MEU LUGAR

Fui ao cinema para ver Woody Allen, mas por um engano de horário o filme que passava era ' Aqui é o meu Lugar', do diretor italiano Paolo Sorrentino. Tomei o acontecido como um indício de que ali poderia ser o meu lugar... Logo nas primeiras cenas cheguei a duvidar, tal o estranhamento que me causou a imagem de Sean Penn, diferente de todas as suas atuações. Uma máscara. Maquiagem carregadíssima, lábios pintados, cabelão armado, roupas e botas pretas. O personagem, um roqueiro aposentado que, apesar disso, carregava sua figura intocada pela passagem do tempo. Algo de uma indefinição o marcava. A voz, de um timbre não qualificável, não era masculina. Nem mesmo feminina. O andar, lento e balançado, fazia o personagem parecer movido em câmera lenta. O roqueiro brilhantemente interpretado por Sean Penn apresenta-se logo de início como um depressivo, em sua fala lenta e monótona, sua carência de esperança, de atitudes, de desejo. Seu quase apagamento, salvo pela relação com a mulher, que trata de sublinhar, a todo tempo, as possibilidades de vida e de relação com o desejo. Linda trajetória da personagem, que, ao se defrontar com a morte do pai, com quem não se relacionava desde a juventude,toma para si mesmo o desejo do pai, assumindo assim sua identificação com ele e, através de uma verdadeira viajem, fazer a transição para o mundo adulto. Numa cena linda do filme, ele diz que um dia se tem que escolher um momento da vida para não se ter medo. É disto que o filme nos fala. Da coragem de criar um itinerário próprio, de assumir um destino próprio,de assumir-se além da máscara.

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