terça-feira, 29 de junho de 2010

A PREPARAÇÃO PARA O VESTIBULAR

Já próximos do final do semestre, passados os meses de ambientação aos cursinhos
e à própria condição de pré-vestibulandos, abertas as inscrições para o Enem, parece
que o momento é de tomada de consciência, momento adequado para um primeiro recado a todos que estão se preparando para prestar vestibular.
É comum que os pré-vestibulandos sejam acometidos de crises de " não sei nada",
"parece que esqueci tudo", pensamentos que são recorrentes e que se caracterizam pela sua radicalidade.Basta que prestemos atenção às palavras:"tudo" e nada", os extremos radicais onde muitas vezes localizamos nossas ações e nossos sentimentos, que, na verdade, são sempre a expressão de nossas possibilidades reais, e, portanto, de nossos limites. Nunca fazemos nada. E nunca fazemos tudo. Mas sempre e simplesmente o que podemos. Ótimo quando podemos ficar felizes com o "tudo" que nos é possível.
Outra coisa bem importante é assumir um jeito próprio de estudar. A gente só aprende de verdade quando se envolve, quando faz daquele momento do estudo um momento proveitoso, que tem sentido. Pensar sobre as coisas, estabelecer relações, obter uma compreensão própria do que estamos estudando. Se não, ficamos robotizados frente às aulas, aos livros e cadernos.
Muitos estudantes sentem culpa ao se envolverem com as experiências habituais de suas vidas porque estariam "perdendo tempo". Sentem-se culpados se vão se divertir, se vão viajar ou namorar. Escuto muito que o namoro "atrapalha" neste período de preparação para o vestibular.
A palavra "vestibular" deriva de "vestíbulo", aquela peça introdutória nos prédios, que dá acesso ao seu interior, e que não fica nem dentro nem fora. Pois é bem assim que os vestibulandos parecem sentir-se. Sem um lugar próprio, prestes a ter acesso a ele, mas cheios de angústia por nada saberem deste futuro. Este momento, portanto, é vivido como um intervalo. Embora, é claro, não passe de uma fase da vida. Que, simplesmente, tem que ser vivida. Em vez de evitar tudo que não se refira ao estudo, mais importante é aprender a dosar-se, buscar equilíbrio e organização na rotina.
Outra questão, e talvez "a questão", é um pré-requisito para vencer essa fase. Trata-se do sentido que damos para nossas experiências. Sim, é preciso se perguntar sobre que sentido tem o vestibular, para quê estamos estudando, qual é nosso projeto. Porque é por isso que se faz vestibular. Para dar curso ao nosso projeto de vida, para assumir nosso papel no mundo. O papel que escolhemos desempenhar.

sábado, 12 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

CORPO E ALMA

Belos corpos ilustram abundantemente as propagandas da indústria da nutrição e da beleza. Revistas e telas de tv e computador impõem suas mensagens, adentram as subjetividades, ditam comportamentos, incitam desejos. Fabricam sujetividade em massa.
A megaindústria associada da beleza, da nutrição e da saúde coloca no mercado constantemente uma infinidade de produtos que prometem reparar, aperfeiçoar, renovar o corpo, livrá-lo das marcas do tempo e da vida. Também a indústria farmacológica promete alívio e cura a toda sorte de sintomas decorrentes do modo de vida acelerado e sujeito a tantas pressões que caracteriza a sociedade contemporânea.
Se em outros tempos a sede do ser, da própria identidade, era a alma, e sacrifícios de toda sorte eram utilizados com o nobre fim de purificá-la e salvá-la, aperfeiçoá-la, hoje, em nosso tempo, o corpo passa a se constituir no lugar de sede identitária. Contraposta à eternidade da alma está a finitude do corpo, com seu prazo de validade. E,se outrora,a salvação da alma era a essência da finalidade da vida humana, hoje vive-se a urgência de salvar o corpo, recuperá-lo todos os dias, buscar receitas de bem viver e de resgate da saúde, da beleza e do vigor do corpo.
Se, também em outros tempos, o homem, seu comportamento e suas ações
se definiam por seu lugar na sociedade, hoje, ao contrário,verifica-se a alta dos sentimentos hedonistas, do individualismo, da perda de sentido das causas sociais,uma sociedade onde cada um cuida de si, onde impera o "eu primeiro".
Se, ainda, em outros tempos, a política era o lugar do exercício da cidadania, para onde convergiam os interesses de todos, hoje ela é vista como o espaço da mentira e do roubo, enquanto a publicidade passou a ocupar esse lugar, e é assim que vêem-se atualmente os anúncios publicitários comprometidos com a cidadania, a ecologia e com os interesses gerais e comuns da sociedade. E as propagandas prometem cuidados e orientações para a vida de todos nós.
Cuidar do corpo, portanto, significa hoje o melhor meio de cuidar de si mesmo, de se afirmar, de sentir-se bem e feliz. Exigências sem fim são feitas ao corpo, coagindo-o a apresentar-se cada vez mais e obrigatóriamente saudável,jovem e capaz de produzir prazer.Cabe a cada corpo estar permanentemente preparado para ser visto, exposto, filmado, fotografado.
Se o homem contemporâneo parece tão alienado de sua ligação com a natureza e com os outros homens, se parece tão concentrado em suas próprias causas, seu próprio corpo, torna-se acima de tudo importante que busquemos o resgate desse mundo sensível, ao invés das imagens, o resgate da aproximação entre os homens, do valor da coletividade. E talvez possamos nos reconciliar com nossa essência mais humana. Com nossa alma humana.