Belos corpos ilustram abundantemente as propagandas da indústria da nutrição e da beleza. Revistas e telas de tv e computador impõem suas mensagens, adentram as subjetividades, ditam comportamentos, incitam desejos. Fabricam sujetividade em massa.
A megaindústria associada da beleza, da nutrição e da saúde coloca no mercado constantemente uma infinidade de produtos que prometem reparar, aperfeiçoar, renovar o corpo, livrá-lo das marcas do tempo e da vida. Também a indústria farmacológica promete alívio e cura a toda sorte de sintomas decorrentes do modo de vida acelerado e sujeito a tantas pressões que caracteriza a sociedade contemporânea.
Se em outros tempos a sede do ser, da própria identidade, era a alma, e sacrifícios de toda sorte eram utilizados com o nobre fim de purificá-la e salvá-la, aperfeiçoá-la, hoje, em nosso tempo, o corpo passa a se constituir no lugar de sede identitária. Contraposta à eternidade da alma está a finitude do corpo, com seu prazo de validade. E,se outrora,a salvação da alma era a essência da finalidade da vida humana, hoje vive-se a urgência de salvar o corpo, recuperá-lo todos os dias, buscar receitas de bem viver e de resgate da saúde, da beleza e do vigor do corpo.
Se, também em outros tempos, o homem, seu comportamento e suas ações
se definiam por seu lugar na sociedade, hoje, ao contrário,verifica-se a alta dos sentimentos hedonistas, do individualismo, da perda de sentido das causas sociais,uma sociedade onde cada um cuida de si, onde impera o "eu primeiro".
Se, ainda, em outros tempos, a política era o lugar do exercício da cidadania, para onde convergiam os interesses de todos, hoje ela é vista como o espaço da mentira e do roubo, enquanto a publicidade passou a ocupar esse lugar, e é assim que vêem-se atualmente os anúncios publicitários comprometidos com a cidadania, a ecologia e com os interesses gerais e comuns da sociedade. E as propagandas prometem cuidados e orientações para a vida de todos nós.
Cuidar do corpo, portanto, significa hoje o melhor meio de cuidar de si mesmo, de se afirmar, de sentir-se bem e feliz. Exigências sem fim são feitas ao corpo, coagindo-o a apresentar-se cada vez mais e obrigatóriamente saudável,jovem e capaz de produzir prazer.Cabe a cada corpo estar permanentemente preparado para ser visto, exposto, filmado, fotografado.
Se o homem contemporâneo parece tão alienado de sua ligação com a natureza e com os outros homens, se parece tão concentrado em suas próprias causas, seu próprio corpo, torna-se acima de tudo importante que busquemos o resgate desse mundo sensível, ao invés das imagens, o resgate da aproximação entre os homens, do valor da coletividade. E talvez possamos nos reconciliar com nossa essência mais humana. Com nossa alma humana.
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