domingo, 24 de abril de 2011

REEDIÇÃO

Ao nascimento, fomos nomeados. Carregamos pela vida o nome, o corpo dotado de certas feições que não escolhemos, nossa constituição deu-se num contexto arranjado por aqueles que nos antecederam, os fatos que fundaram nossa história tiveram outros por protagonistas. Não inventamos nada disto. Quando crianças, disseram-nos as palavras que aprendemos a repetir, deram-nos uma versão da vida, do mundo. Um ideário para crer, os livros que devíamos ler, o comportamento que devíamos adotar. Acostumamos o ouvido com a música preferida por nossos pais, o paladar com suas preferências ou regras nutricionais, nossos pés trilharam os caminhos por eles indicados.
Quando, em meio ao lento e emocionante processo pelo qual crescemos, nos vemos em outro momento, frente às possibilidades, frente às escolhas, frente a nós mesmos, à vida que desejamos construir, surge um estranhamento e uma angústia. Estranhamento com aqueles pais, meras pessoas, de carne e osso, agora. Estranhamento com o mundo, que não era bem aquele no qual acreditáramos, com este que vemos no espelho – quem será? – com tudo, enfim, que antes nos parecia habitual e conhecido.
Torna-se, neste momento, necessária uma reinvenção, uma reedição de nossa própria história, de nossa visão de mundo, de nós mesmos e de nossos projetos, que não mais aceitam fantasias. Queremos colocar os pés na realidade do mundo, escolher nosso lugar, ocupá-lo, fazer um papel no cenário da vida. E então, encorajados, saímos da casa protegida e vamos prá rua, pro mundo.

domingo, 3 de abril de 2011

MARC CHAGALL, THE DREAM

PRODUZINDO SENTIDO

A essência do meu trabalho como psicóloga clínica é a construção de sentido.
Digo construção porque é isso mesmo, é processo, é movimento,é a busca de novos significados para tudo aquilo que trazemos tão adormecido ou tão bem acomodado dentro de nós mesmos.
A psicoterapia, que tenho trabalhado com jovens e adultos desde 1985, produz sentido, ressignifica o que tendemos a repetir, visa criar novos arranjos com nossos sintomas ou nosso jeito de ser no mundo. É a busca da verdade, que não é absoluta,infalível ou sequer conhecida. “ A verdade diz : EU”, segundo Lacan.
A palavra clínica, de origem grega, significa “inclinar-se sobre”, ou seja, inclinar-se sobre o sujeito, partindo do acolhimento e da escuta, operando na verdade do discurso,trabalhando para a produção de novas versões sobre os mesmos fatos, operando com as motivações conscientes e inconscientes do sofrimento. Problemas ou dificuldades bem atuais e muitas vezes bem conscientes que, ao longo do processo terapêutico, vão remetendo a conflitos mais antigos e não tão conscientes. Uma experiência de transformação,de abertura para novos sentidos.