domingo, 24 de abril de 2011

REEDIÇÃO

Ao nascimento, fomos nomeados. Carregamos pela vida o nome, o corpo dotado de certas feições que não escolhemos, nossa constituição deu-se num contexto arranjado por aqueles que nos antecederam, os fatos que fundaram nossa história tiveram outros por protagonistas. Não inventamos nada disto. Quando crianças, disseram-nos as palavras que aprendemos a repetir, deram-nos uma versão da vida, do mundo. Um ideário para crer, os livros que devíamos ler, o comportamento que devíamos adotar. Acostumamos o ouvido com a música preferida por nossos pais, o paladar com suas preferências ou regras nutricionais, nossos pés trilharam os caminhos por eles indicados.
Quando, em meio ao lento e emocionante processo pelo qual crescemos, nos vemos em outro momento, frente às possibilidades, frente às escolhas, frente a nós mesmos, à vida que desejamos construir, surge um estranhamento e uma angústia. Estranhamento com aqueles pais, meras pessoas, de carne e osso, agora. Estranhamento com o mundo, que não era bem aquele no qual acreditáramos, com este que vemos no espelho – quem será? – com tudo, enfim, que antes nos parecia habitual e conhecido.
Torna-se, neste momento, necessária uma reinvenção, uma reedição de nossa própria história, de nossa visão de mundo, de nós mesmos e de nossos projetos, que não mais aceitam fantasias. Queremos colocar os pés na realidade do mundo, escolher nosso lugar, ocupá-lo, fazer um papel no cenário da vida. E então, encorajados, saímos da casa protegida e vamos prá rua, pro mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário