terça-feira, 21 de junho de 2011

O DISCURSO DO REI

O filme “O Discurso do Rei” é tocante. Talvez porque dele se espere, a princípio, o rei, sua realeza, seus discursos...e nos deparemos com o homem, sua simples, banal e não menos conflituada realidade humana. O personagem principal é um futuro rei atormentado por suas angústias, temores e por seu sintoma: a gagueira. Albert não se sentia capaz de ocupar o trono da Inglaterra. E era notório a todos que sua gagueira o impedia de assumir o lugar do pai, o rei falecido.
O filme aborda, com riqueza e sensibilidade, a relação terapêutica. Naquele contexto, a relação de um terapeuta da voz, ou fonoaudiólogo, e seu paciente. Mas bem poderia tratar-se da relação de um psicólogo e seu paciente, ou do médico com seu doente. A realidade mais íntima da prática clínica, esta que se apóia na determinação e na vontade de dois, daquele que ali está para curar, para escutar,acompanhar e daquele que ali está para ser ouvido, curado. Caminhada repleta de momentos difíceis, impasses, a desafiar as técnicas e os conhecimentos. Albert e seu terapeuta precisaram renovar a cada novo momento de sua relação a coragem e a vontade de ir adiante, a confiança em si mesmo e no outro, a capacidade de persistir frente aos obstáculos que se criam, às resistências frente ao risco da mudança.Sim, porque o sintoma, no caso a gagueira, por mais que representasse para Albert todo o empecilho e obstáculo, ao mesmo tempo era o conhecido. Os sintomas são sempre formações de compromisso com o propósito de
lidar com a realidade. Linda a cena em que Albert, no auge de sua angústia, grita, dirigindo-se ao terapeuta, que o provoca :”Porque eu tenho voz.”
É também assim numa psicoterapia ou numa análise. Falar, ser ouvido, recuperar sua voz, seu discurso, sua verdade. Encontrar vias mais autênticas, verdadeiras de sermos nós mesmos. Às vezes, inclusive com nossos sintomas. Outra cena interessante do filme é aquela em que o rei consegue, encorajado por seu terapeuta, fazer seu discurso, pontuado de longas pausas que, desta vez, não são pausas de bloqueio, e sim de retomada de um novo ritmo que ele imprime ao seu discurso. O terapeuta, ao cumprimentá-lo, olha-o com um olhar risonho e diz: “Você gaguejou ainda num ponto.” E o rei responde: “ Sim, eu precisava mostrar que era eu mesmo...”
Recomendo “O Discurso do Rei” como inspiração a todos os que lutam para superar suas dificuldades, para acreditar que são capazes, para assumir aquilo que são. E especialmente aos que pensam seguir as profissões clínicas, como Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Medicina, e outras. Ou àqueles que vivem o cotidiano da clínica, como eu.
A seguir, uma entrevista com o ator Colin Firth, que fez o rei. O ator,falando em seu personagem, diz que “ é comovente, porque não é só a dificuldade, mas a coragem com que ele lida com a dificuldade.” E assim é a vida. Provoca-nos a lidar corajosamente com nossas dificuldades.

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