segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O PRIMEIRO DIA

A intensa luz do mundo e seus ruídos estranhos invadiram o pequeno ser que, chorando seu primeiro choro, foi amparado por grandes e firmes mãos. Já não era mais aquoso o ambiente, nem morno, e muito menos confortável. A princípio, era assustador. As grandes mãos o seguram, manuseiam, os sons estranhos se misturam. E agora ele respira. Então, o conhecido som devolve-lhe sensações já conhecidas. O calor, os olhos nos olhos, a primeira conexão, o primeiro laço. O corpo materno é seu lar. O pedaço de mundo seguro,onde pode construir a confiança no mundo.
O nascimento, essa primeira viagem de separação é o primeiro trauma humano. E é também o início (ou mais ou menos isso, já que a história sempre nos precede) de uma trajetória:a vida, os laços humanos, o relacionamento com o outro. Aí estão as raízes de nossas experiências com as ligações, os laços e, por outro lado, com as separações. Como fomos recebidos, desejados ou não, que contexto permeou esse nascimento, a história de nossos pais, são fatores que determinam como passamos por tudo isso, e muito do que viremos a ser.
E haverá outros primeiros dias. Em que aquelas sensações e experiências primordiais como que darão sinais de que estão ali, dentro de nós, de que já passamos por algo parecido. Parecido e diferente.
O primeiro dia de pré-escola, por exemplo. Dependendo de como estávamos preparados para aquela primeira separação, de como nossos pais estavam preparados e souberam ou não nos autorizar com segurança e tranquilidade a viver nossa primeira experiência com o mundo sem a intermediação deles, podemos ter nos saído melhor ou tido alguma dificuldade.
O primeiro dia no cursinho. Já não estamos entre nossos colegas conhecidos, não somos mais aqueles despretenciosos alunos de segundo grau, e parece que tampouco sabemos muito quem somos agora.
E assim o primeiro dia de aula na universidade. O estranhamento, as descobertas, as inseguranças, as dúvidas, e a alegria. Não sabemos como vão se passar as coisas. O futuro sempre a provocar e interrogar o espírito humano. O que sabemos, e é isso que nos contenta, é que estamos amadurecendo, estamos inventando nosso próprio caminho.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AS PROFISSÕES DA SAÚDE

Ocupar-se da saúde humana num tempo de verdadeira crise da humanidade, em que procuramos novas significações para nós, humanos, e para o mundo, este tempo de tecnologias que avançam numa velocidade inapreensível, onde as diferenças e contrastes são chocantes, num mundo em que parece crescer a tendência à propagação de doenças em escala global, em que cada vez mais uma minoria parece terá acesso aos benefícios e promessas da pesquisa biomédica, ora, isso parece tarefa desafiante. E, pelas mesmas razões, e na mesma medida, papel importante a ser desempenhado.
Profissões como Medicina, Biomedicina, Odontologia, Enfermagem, Medicina Veterinária, Nutrição, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Ciências Biológicas(o Biólogo, dependendo de sua opção, pode trabalhar diretamente vinculado à area da saúde), Psicologia (que pode ser classificada também em outras áreas), requerem interesses, para começo de conversa, ligados à vida e ao ser humano, à natureza,aos animais, conforme o caso. São profissões que demandam interesse pelos aspectos sociais, habilidade de análise, observação e síntese e familiaridade com os fenômenos químicos e biológicos.
Os vocacionados para essas áreas são geralmente pessoas flexíveis em relação às rotinas diárias, já que os profissionais em questão costumam exercer suas tarefas em horários que se alternam, se modificam e nada têm de estáveis.
É comum ouvirmos que estes profissionais precisam ser "frios". Talvez seja importante questionarmos esse aspecto e considerarmos que os profissionais que lidam com a saúde, muito pelo contrário, precisam contar com sua sensibilidade para lidarem com as dificuldades humanas. Importante, isto sim, o equilíbrio emocional que o habilite a lidar com as emoções do outro. Este será um desafio constante para um profissional que estará inserido num campo de grandes contrastes:de um lado, a alta tecnologia, de outro, a carência humana mais aguda. Certas áreas da Medicina e da Odontologia parecem ter adquirido uma face extremamente técnica, desafiando o profissional e clamando por sua humanidade.
Vivemos hoje numa nova ordem, regida por grandes forças econômico-financeiras, entre as quais, a indústria da beleza, nutrição e saúde. Tudo pode e deve funcionar como remédio. Nunca a humanidade temeu tanto a doença e teve tanta aversão ao mal-estar. Vivemos sob a urgente necessidade de nos sentirmos sempre supersaudáveis, bem dispostos. A medicalização e a prevenção absolutas são a obssessão incrementada pelos progressos da biotecnologia. É neste cenário que os profissionais da saúde vão necessariamente estar mergulhados. E chamados a se responsabilizar pela vida e pela humanização do seu fazer.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A ESCOLHA



No vídeo abaixo, o psicanalista Jorge Forbes diz que a escolha é algo profundamente humano. Só os humanos duvidam e escolhem.
Escolher é, portanto, uma forma de exercermos nossa humanidade. Às vezes nos esquecemos, até, de que escolhemos o tempo todo. Ou não temos absoluta consciência de nossas escolhas, que são bastante determinadas por causas inconscientes. Na escolha sempre está implícita essa determinação inconsciente, além de outras de ordem cultural, histórica, , social,midiática, enfim nossas escolhas são geradas e atravessadas por uma gama de influências. O que a sociedade espera de nós, o que sempre ouvimos de nossos pais, o que a mídia nos incute, o que a moda dita, o que o mercado oferece e nos convida a consumir. Imprescindível se torna o empenho no resgate das nossas singularidades.
Escolher nos remete necessariamente a dúvidas, ganhos e perdas. Não é possível ganhar sem perder. E fazer uma escolha nos coloca frente à necessidade de lidar com isto. Ao escolher ser professor de Educação Física, porque me identifico com este papel, vejo sentido aí, e acredito que essa escolha me dará um sentido, um significado, posso estar decepcionando quem acha que essa profissão "não dá dinheiro", ou ao meu pai que é advogado e gostaria que eu também fosse. Vou precisar de coragem para assumir minha decisão. Ou para tomá-la.
Fazer escolhas requer coragem e capacidade de lidar com perdas inevitáveis. Ao escolher Educação Física, não escolho Direito. E preciso me ver com isso, elaborar o luto pelo que perdi. Todos nós somos sensíveis às perdas. Amadurecer é também esse aprendizado em relação a tudo isso que está envolvido no ato da escolha.
A escolha gera dúvida e angústia. E temos tendência a pensar na angústia como um problema, um mal a ser eliminado, ou curado. A angústia, para Lacan, o psicanalista que repensou a teoria de Freud, "é a única fonte da criação", como nos lembra jorge forbes no vídeo abaixo. É da angústia que nasce a invenção da vida. Angustiar-se é estar vivo, propenso a a criar,a inventar-se.
A escolha é uma experiência com a dúvida, com a angústia e com a coragem de se inventar de se assumir.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

AS ENGENHARIAS

O homo faber, esse construtor, fabricante do mundo, é essência do humano, que só se tornou humano construindo (e utilizando a linguagem, e se relacionando). Pois alguns de nós temos essa veia bem acentuada, essa de fazer, mexer, fabricar, construir, misturar, essa curiosidade de ver como funciona, como pode funcionar melhor, essa familiaridade com a técnica.
As engenharias são um campo bem propício, sem dúvida, a esses engenhosos, às vezes mais técnicos, às vezes mais criativos.
Há quem pense em engenharia como profissão exata, unicamente associada a cálculos e
à transformação físico-dinâmica dos ambientes. No entanto, o papel essencial dos engenheiros consiste em colocar à serviço da sociedade todas as conquistas da tecnologia, mediante a elaboração de dispositivos que aumentem a eficiência e diminuam a fadiga e o risco humanos, em todos os atos da vida, bem como resguardem e visem a preservação ambiental.
Esse faber que é o engenheiro, portanto, está, e muito, ligado às causas humanas. No exercício da sua profissão, geralmente exercerá papéis de liderança junto ao seu grupo de trabalho. Estar à frente na tomada de iniciativas, ser capaz de motivar o grupo para fazer, são habilidades próprias de um bom profissional da área. As habilidades de compreensão físico-matemática, desenho técnico, inteligência abstrato-espacial, são sem dúvida fundamentais naquele que tem vocação para engenharia.
O acadêmico de engenharia vai estudar disciplinas básicas tais como cálculo, física, química, computação, princípios básicos de engenharia. A partir daí passa a cursar disciplinas mais específicas, relacionadas com a área da engenharia escolhida. São muitas, e elas crescem com o crescimento das demandas geradas pelo avanço tecnológico. Por exemplo:
engenharia civil, engenharia mecânica, engenharia química ou bioquímica, engenharia mecatrônica, engenharia de alimentos, engenharia da computação, engenharia elétrica, engengenharia aeronáutica, engenharia de produção, engenharia ambiental, engenharia agronômica, engenharia de minas, engenharia de petróleo, engenharia de materiais e manufatura, engenharia florestal, engenharia metalúrgica, engenharia naval e a aparentada arquitetura e urbanismo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A OPÇÃO PELO SUJEITO NO MUNDO DA MERCADORIA

Um dia desses fui a uma loja de sapatos e a vendedora, percebendo meu ar pensativo ao examinar o par de sapatos recém experimentado, lançou sua estratégica frase clichê: "- Tá saindo bastante!" Ou seja, vendendo bastante. Tratava-se de uma mercadoria com boa aceitação no mercado. O que ela não poderia imaginar, e não a culpo, é que, para mim, esta singular cliente, este não fosse um critério decisivo para a compra. Pelo contrário, poderia, isto sim, ter sido critério de desistência!
Vivemos no grande mundo das mercadorias. Mercadorias objetos, mercadorias humanas. Homem mercadoria, mulher mercadoria, trabalho mercadoria.
Ao decidir utilizar esse blog como um espaço para dizer o que penso, para fazer pensar, para divulgar o meu trabalho, optei por fazê-lo um espaço singular, criativo, de diferença. Não um "blog mercadoria", preocupado com o que "tem saída", o que " vende bem " , o que reproduz para ser aceito.
Talvez por isso esse blog, voltado para a orientação vocacional, não traga os requisitados testes. Não que eu me oponha a eles, mas porque prefiro fazer um trabalho que, ao invés de alienar o orientando e jogar as expectativas e responsabilidades nos testes, faça o contrário, desperte o sujeito para a reflexão acerca de si mesmo, para que se assuma como sujeito dos seus processos. Esta é a caminhada que eu proponho.