A intensa luz do mundo e seus ruídos estranhos invadiram o pequeno ser que, chorando seu primeiro choro, foi amparado por grandes e firmes mãos. Já não era mais aquoso o ambiente, nem morno, e muito menos confortável. A princípio, era assustador. As grandes mãos o seguram, manuseiam, os sons estranhos se misturam. E agora ele respira. Então, o conhecido som devolve-lhe sensações já conhecidas. O calor, os olhos nos olhos, a primeira conexão, o primeiro laço. O corpo materno é seu lar. O pedaço de mundo seguro,onde pode construir a confiança no mundo.
O nascimento, essa primeira viagem de separação é o primeiro trauma humano. E é também o início (ou mais ou menos isso, já que a história sempre nos precede) de uma trajetória:a vida, os laços humanos, o relacionamento com o outro. Aí estão as raízes de nossas experiências com as ligações, os laços e, por outro lado, com as separações. Como fomos recebidos, desejados ou não, que contexto permeou esse nascimento, a história de nossos pais, são fatores que determinam como passamos por tudo isso, e muito do que viremos a ser.
E haverá outros primeiros dias. Em que aquelas sensações e experiências primordiais como que darão sinais de que estão ali, dentro de nós, de que já passamos por algo parecido. Parecido e diferente.
O primeiro dia de pré-escola, por exemplo. Dependendo de como estávamos preparados para aquela primeira separação, de como nossos pais estavam preparados e souberam ou não nos autorizar com segurança e tranquilidade a viver nossa primeira experiência com o mundo sem a intermediação deles, podemos ter nos saído melhor ou tido alguma dificuldade.
O primeiro dia no cursinho. Já não estamos entre nossos colegas conhecidos, não somos mais aqueles despretenciosos alunos de segundo grau, e parece que tampouco sabemos muito quem somos agora.
E assim o primeiro dia de aula na universidade. O estranhamento, as descobertas, as inseguranças, as dúvidas, e a alegria. Não sabemos como vão se passar as coisas. O futuro sempre a provocar e interrogar o espírito humano. O que sabemos, e é isso que nos contenta, é que estamos amadurecendo, estamos inventando nosso próprio caminho.
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