Na vida, tendemos à preocupação com as definições, com o acabamento das coisas.
Desejaríamos saber como tudo vai transcorrer, como vai acabar, que resultado obteremos a partir de nossos investimentos.
Decidimos e escolhemos o tempo todo. A comida que comemos, a roupa que usamos, as palavras que diremos e as que calaremos, se compramos ou poupamos, se beijamos ou abraçamos, se brigamos ou perdoamos, se ousamos ou nos reservamos. A profissão, o namorado, a namorada, com quem ficar na festa, se acreditamos ou desconfiamos, se amamos ou gostamos...
Quem somos nós? É a pergunta que parece que temos que responder todo dia. Ficamos a idalizar alguém que seja feito de certezas, e que possa escapar a esse destino de dúvida, de angústia, de questionamento. Desejamos às vezes ficar descansados de nossas inquietações, ancorados num sereno saber que nos proteja do risco. Do risco de errar, do risco de ter que voltar,de ter que pensar melhor, do risco de desmanchar tudo e construir de novo... Às vezes queríamos estar abrigados, seguros, inabalados, inatingíveis.
Impossível, pelo menos para os vivos, escapar do movimento surpreedente e incontrolável da existência.
Michel Foucault, filósofo francês que pensou as relações entre o saber e o poder de uma maneira bastante original e esclarecedora, é quem nos diz :
" Não considero necessário saber exatamente quem sou. O que constitui o interesse principal da vida e do trabalho é que eles lhe permitem tornar-se diferente do que você era no início. Se, ao começar a escrever um livro, você soubesse o que irá dizer no final, acredita que teria coragem de escrevê-lo? O que vale para a escrita e a relação amorosa vale também para a vida. Só vale a pena na medida em que se ignora como terminará. "
Foucault, Michel; Coleção Ditos e Escritos, vol v, Rio de Janeiro,ed. Forense Universitária
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