sábado, 23 de janeiro de 2010

A INVENÇÃO DE SI

O ator da cena da vida é escalado para papéis aos quais muitas vezes está habituado, e por isso os encarna com extrema facilidade. Outras vezes lhe atribuem papéis mais ousados , difíceis de serem vividos; ou, mesmo, papéis surpreendentes, que parecem não corresponder às suas habilidades e possibilidades cênicas.
Ao vê-lo assim tão ocupado com tantos desempenhos, com a velocidade em que as cenas vão se sucedendo,com tantas exigências quanto à desenvoltura, improvisação, flexibilidade,pode nos ocorrer a pergunta: afinal, quem é ele? Por trás de suas más-
caras esconde-se seu verdadeiro eu?
O cenário, o ator, compõem a cena contemporânea, e estamos nós a nos perguntar
sobre sua identidade. A identidade, neste contexto,não tem mais aquela fixidez e estabilidade de outros tempos. O ator em cena, não mais a segurança de outros tempos.
Uma tarefa, um trabalho pela vida afora, essa tal de identidade. Aquilo que o indivíduo é, e que juntamente com a atividade e a consciência vão compondo a subjetividade. Numa perspectiva histórica e dialética, podemos dizer que o indivíduo é metamorfose.
Quando pensamos no sujeito da socidade capitalista contemporânea, precisamos pensar na história deste sujeito e no contexto que o cerca, ou mesmo, que o atravessa, com suas influências e determinações. São múltiplos os componentes que produzem subjetividade: sociais, materiais, sexuais, de poder, de mídia, constituindo um verdadeiro e complexo processo. O que o indivíduo é está como que etiquetado nos produtos que consome, nos lugares que frequenta,no meio de transporte que usa, na música que ouve, na roupa que veste, na comida que come.
O sujeito humano inicia sua vida sem saber o que é ser humano. O animal humano não sobrevive sem a tutela do outro. E se constitui como sujeito na relação com o outro e com a linguagem. É nessa relação com o outro, com a palavra que lhe é dita, com todas as particularidades dessa história, que o sujeito se constitui. Nas palavras da psicanalista Suely Rolnik:
" A subjetividade designa um campo de complexidade crescente. Ali se cruzam vetores que até recentemente pertenciam adomínios do saber estanques, demolindo as clássicas fronteiras entre o psíquico e o social, o subjetivo e o político, a esfera inconsciente e a produtiva, o teatro interno e a cena material, a invenção de si e do mundo. "

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