sábado, 16 de janeiro de 2010

UMA REFLEXÃO SOBRE A VOCAÇÃO

A palavra vocação, de origem latina (vocatio), significa chamado, e é com frequencia utilizada nas abordagens referentes à escolha profissional. O que é vocação? Existe mesmo a vocação, ou o sujeito pode, como alguns afirmam, desenvolver as habilidades necessárias para assumir o papel profissional que decidir ?
Bem, realmente, desde o início da modernidade, a sociedade vem se pautando pelo ideário liberal, e o homem vem se atrevendo a se pensar como um ser que decide o próprio destino. Lá na idade média, por exemplo, os destinos do homem estavam designados desde o nascimento, e a profissão, assim como tudo o mais que se referia ao lugar ocupado pelas pessoas naquela sociedade, eram pré-determinados, seja pelos laços de sangue ou pelos desígnios divinos.
A visão que temos das coisas é sempre determinada pelo ponto de onde olhamos, de onde nos situamos. Vivemos numa sociedade capitalista, em plena chamada “pós-modernidade”, o que significa que somos livres para decidir. E como...., já que as opções são cada vez mais numerosas, e não cessam de se ampliar. Tudo muda tão rápido em nossa sociedade, que temos dificuldade para fazer projetos a longo prazo.
Vejo que é muito comum que as pessoas falem em decidir “o que fazer”, como se a profissão fosse apenas mais uma das tarefas que temos pela vida. O fazer parece estar mais associado às necessidades, habilidades, e aos interesses mais imediatos.
E realmente, a profissão é um fazer. Mas um fazer que se diferencia de outros fazeres, como tomar banho, fazer comida. É um fazer que confere sentido ao nosso viver, que define o papel que desempenhamos na sociedade. A profissão é um fazer que se relaciona essencialmente com o que somos, e o que somos com o que fazemos.
Em nossa sociedade hipercapitalista, ordenada pela técnica e pela ciência, predomina a tendência a explicar as coisas do ponto de vista da biogenética, da neurociência. É assim que as compreensões contemporâneas acerca das identidades, de quem somos nós, se encaminham também por aí. Somos assim porque teríamos um gen que nos conferira essa característica, a depressão e outras patologias seriam explicáveis por desequilíbrios químicos, e assim por diante.
Quero lançar o olhar em outra perspectiva. Para uma compreensão histórica e
multifacetada do ser humano. O homem se constrói na história que vive, foi no fazer de
sua história que a humanidade se construiu. E esse é um processo que tem movimento, um movimento que é o da vida humana.
Quando nascemos, nossos pais, que tiveram seus pais, com suas histórias, tinham expectativas a nosso respeito, quiseram coisas para nós, estabeleceram conosco uma relação que foi determinando, em grande parte, o que somos hoje. É isso que quero dizer. O que somos não é uma invenção tão liberal assim. Trazemos em nós inclinações que são fruto das experiências que vivemos em nossas histórias, determinadas pelas relações que se estabeleceram nesse contexto, e, ao mesmo tempo, temos em nossas mãos, e isso é importante, as possibilidades de mudar esse destino, de transformá-lo.
Acredito, portanto, que somos , sim, vocacionados, ou “ chamados”, não por instâncias divinas, mas por essas determinações históricas que vão nos formando, nos construindo. O que vamos fazer com isso? Bem, aí é realmente uma questão de escolha.

Um comentário:

  1. Parabéns minha amiga! Estou me deliciando com teus textos.Já escolhi acompanhar este caminho. Abraços.

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