quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

UM NATAL E ANO NOVO INVENTIVOS

Os finais de ano nos impelem à repetição. Ou à invenção. Ao revivermos as tradições de Natal e Ano Novo, encontramo-nos fazendo mais uma vez tantas coisas que sempre fazemos nesta época, que temos que fazer, que alguém espera que façamos... A compra dos presentes, dos panetones, da decoração natalina, dos cartões que trazem palavras tão conhecidas, os votos renovados e replicados de felicidade.
E a felicidade? Nós, humanos, vivemos uma eterna contradição no que diz respeito à felicidade. Pelo simples fato de que nos falta sempre algo, algo que não conseguimos, algo que não dissemos, algo que não podemos, algo sempre nos faltará... Por isso somos seres desejantes. E que, fatalmente, temos que nos ver com essa falta...
Pois a felicidade talvez tenha mais relação com nos havermos com nossa incompletude do que com uma busca de supri-la... Ser feliz parece que tem a ver com esta mágica que rompe com a repetição, com a invenção de um jeito sempre incompleto de fazer algo interessante com essa nossa condição. Onde a falta, a imperfeição, sempre farão sua marca...
Ao desejar aos meus caros leitores um Feliz Natal e felicidade em 2012, estou a fazer-lhes votos de muita capacidade de fazer mágicas, de inventar, ao invés de repetir. E, necessariamente, de se responsabilizarem, arcarem com suas invenções...

sábado, 3 de dezembro de 2011

VIDA PRÓPRIA

Há um momento em que as mãos se desprendem dos braços de quem as ampara, e passos cambaleantes e inaugurais então acontecem.
Um dia, diante do espelho, a percepção da própria unidade, da diferença. Um corpo, outro corpo...
A descoberta da palavra não, o prazer de contrariar uma expectativa, de simplesmente desobedecer... Existe o sim, existe o não. Existe o um e o outro...
Também a ida para a praia, com a família, no verão. Um dia, não foi. Preferiu ficar. Mas é que sempre haviam feito esse passeio juntos... Pois hoje ficou, junto consigo mesmo...
As roupas preferidas da mãe foram desprezadas, a opinião do pai, contestada. A foto do porta-retrato, trocada.
Há sempre o dia em que se quer encontrar o próprio tom, a própria trilha, a própria zona de conforto... Nesse dia, o familiar se torna estranho, o estranho parece, então, familiar.
Não é indolor, todavia, esse processo. Há uma saudade que fica de fundo, remetendo ao que se foi, à cena antiga... E então segue-se em frente, e vão-se fazendo as descobertas, as aventuras, os bons momentos e as grandes emoções. A vida própria vai tomando seu jeito.
Em cada um desses pedaços de vida é decisivo o ato da escolha, que faz germinar o sujeito em cada gesto, em cada marca de singularidade.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

OS SEGREDOS DO OLHAR

No filme argentino “O Segredo dos seus Olhos”, existe uma impressionante combinação de beleza e violência, passado e presente, uma boa história e uma belíssimo trabalho dos atores. O protagonista, um promotor aposentado, decide escrever um livro sobre um crime brutal ocorrido em seu passado profissional. O personagem revê, durante a trama, a sua compreensão do caso, a sua relação com a ex-chefe, pela qual foi sempre apaixonado, e sua própria atitude perante a vida e perante o amor. A intensidade do olhar permeia as cenas do início ao fim, seja na cena do crime, nos encontros dos dois protagonistas, que acontecem em dois momentos de vida diferentes, ou mesmo na pista para a descoberta do assassino, que se revela pelo olhar. Por fim, a revisão do caso propicia também um novo olhar sobre a vida.
Se nos construímos como sujeitos nos laços com os outros, o olhar tem um caráter essencial nessa construção. O bebê recém chegado ao mundo, ao viver a primeira experiência de separação, reencontra-se com a mãe num enlace de olhares. Olhos nos olhos, tem suas primeiras sensações sobre a vida, e recebe, através desse olhar, um “recado”, uma mensagem que a mãe lhe transmite. É também pelo olhar do outro que aprendemos a nos ver. Esta imagem que o outro nos devolve com seu olhar vai nos dizendo quem somos. Na adolescência, buscamos outros olhares , desde outros que não nossos pais a nos dizerem quem somos, até a visão outra que precisamos alcançar do mundo, numa perspectiva própria.
O personagem do filme empreende um doloroso mergulho em seu passado, perseguindo a elaboração de situações que ainda careciam de ser significadas, e renova-se libertando-se de seus bloqueios. Bonita a cena em que ele, ao olhar a palavra que havia rabiscado num pedaço de papel, à cabeceira da cama, palavra lida já tantas vezes, sorri e lhe acrescenta uma letra, transformando “temo” em “te amo”. Ele sai, então, decidido a viver seu amor. Ela lhe diz:" Vai ser complicado." "Não me importo", diz ele.
É sempre tempo para olhar com outros olhos, buscar uma diferente visada, ou diferentes campos para alcançar com nossa visão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011



A instigante obra do surrealista René Magritte, que nos remete ao sonho e à utopia

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O SUJEITO E SUA CONTRADIÇÃO

O discurso da Modernidade é o discurso das liberdades fundamentais do ser humano,
e a Modernidade é a própria inauguração da idéia liberal, da escolha, da individualidade.
A liberdade de ser quem eu quero ser, fazer minha própria escolha, viver a vida do meu jeito, construir minha própria identidade... Em nosso mundo chamado pós-moderno, vivemos o auge da reivindicação das liberdades. Somos todos livres, aptos a fazer nossas escolhas...
Lacan, psicanalista francês que, na década de 50 reformulou a psicanálise fundada por Freud, refere-se a este discurso de liberdade como um delírio. Portanto, além de livres, segundo Lacan somos também delirantes... E esta idéia lacaniana se fundamenta na noção mais importante da psicanálise, aquela que lhe deu origem e que escandalizou a sociedade vitoriana da época de Freud: a noção do inconsciente. O gênio de Freud desbancou toda essa autonomia, ao revelar-nos divididos entre, por um lado, este que facilmente reconhecemos e assumimos como nós mesmos: o nosso eu, e, por outro lado, esse obscuro e estranho que mora em nós, o inconsciente. Dele nada sabemos.
Esta é a contradição do sujeito humano. Este que se pretende dono de si, livre para fazer suas escolhas, e este que tantas vezes não tem escolha, que se vê tantas vezes refém de si mesmo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011


OS TEMAS INSISTENTES

Algo sempre insiste em nosso discurso, em nossos gestos, nossos atos, em nossa história. "A história se repete", ouvimos tantas vezes. Sim,repete-se, à reveleia de nossas vontades, tantas vezes, e também se recria, se renova, se faz diferente. Assim somos nós, feitos de insistências e repetições e da mais pura invenção. Seres notoriamente contraditórios, esses que somos. Esses que se afirmam "os mesmos" embora sejam tantos outros pela vida afora. Tão desejosos de mudança, de traços que nos façam diferença, e tão apegados às conhecidas e familiares facetas de nós mesmos...
Visitei esta semana o museu Iberê Camargo, onde estão expostas obras de Iberê e do uruguaio Torres Garcia. O conjunto da obra de um artista não foge a esta dualidade , onde o novo e o repetido se combinam a constituir identidades. Na obra de Iberê me toca o tema do ciclista, este personagem sombrio, solitário, ora a percorrer caminhos a bordo de sua bicicleta, ora estático, numa pose frontal na tela, a olhar, a bicicleta ao longe, ou ainda estirado ao solo, será que extenuado pelo cansaço, será que desesperançado... São fortes as telas onde Iberê repete o tema do homem e de sua bicicleta. Um homem que pode estar em movimento ou aparentemente estático. Na solidão inerente ao humano, esta em que o homem conversa consigo mesmo...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O DESAFIO DO ENEM

Os estudantes que estão neste ano se preparando para concorrer a uma vaga no en-
sino superior sentem, nas duas próximas semanas, a proximidade do momento que, para muitos, é decisivo e, para outros, o primeiro dos desafios a cumprir, no caso dos que vão ainda prestar vestibular, como é o caso na UFRGS e em outras universidades do país.
Nossa época é farta em oferecer aconselhamentos, as dicas sobre como viver melhor,
como aprimorar nossas performances, nossos corpos, nossa saúde, enfim, a busca de resolver as inquietações, angústias, medos e ansiedades da vida fazem o sucesso dos chamados livros de auto-ajuda, dos programas televisivos onde famosos dão suas receitas de como proceder para ter sucesso, dos sites onde se pode procurar respostas para quase todas as perguntas. As dicas para quem vai prestar o exame do ENEM e o vestibular certamente estão bem difundidas, seja nos cursinhos, com a orientação dos professores, seja nos sites especializados ou nas matérias jornalísticas.
Posso apostar que a grande maioria deles colocará o foco no tema da ansiedade. São muitas as técnicas que os mais diversos especialistas sugerem, e algumas matérias dirigidas a estudantes serão enfáticas ao propor simplesmente: “o importante é ficar calmo na hora das provas.”
Pois meu recado aos que acompanham o meu blog e aos que são por mim acompanhados no consultório é para que reconheçam a ansiedade como parte deste processo, e da importância que estão atribuindo ao seu projeto. E para que priorizem a clareza do sentido do vestibular ou do ingresso na universidade, já que fazer as provas com esta clareza é um dos requisitos para ter sucesso. Ou seja, tão importante quanto ter estudado a matéria que cai nas provas, é ter estudado a si mesmo, e estar de posse de algumas convicções sobre o que se pretende ser e fazer nessa vida.

sábado, 17 de setembro de 2011

MUDANÇA DE CURSO

Há uma preocupação que cresce nos meios universitários: é grande o número de estudantes que mudam de curso, ou seja, supostamente fizeram uma opção equivocada
e buscam retificá-la. Certamente que esta situação onera os cofres da universidade pública e nos põe a questionar sobre as causas deste problema.
Acho que podemos pensar em muitos aspectos que contribuem para que isto aconteça.
Podemos pensar, e este é o argumento mais utilizado, na pouca idade dos jovens que ingressam na universidade, que muitas vezes tem 16, 17 anos, e, segundo os adeptos deste argumento, não teriam maturidade para fazer uma escolha profissional.
Penso que a questão não se resume à faixa etária dos jovens, mas se estende à própria
família e sociedade que não conseguiram embasá-los e muni-los de recursos para escolher bem, para definir seus projetos de vida. A própria universidade parece não estar preparada para lidar com esta questão, já que sua estrutura não dispõe de mecanismos que pudessem alterar este quadro, como, por exemplo, a formação interdisciplinar nos primeiros semestres, favorecendo e dando condições aos jovens de tomarem suas decisões num processo mais gradual e coerente.
A sociedade contemporânea rege-se pelo pragmatismo e pelos valores de mercado, o que se reflete numa tendência mais objetiva, menos utópica por parte da juventude. O jovem tende a objetivar a escolha da profissão, que acaba por se realizar com pouca base subjetiva. A busca da informação tem primazia sobre a do autoconhecimento. A busca do sucesso e da ascensão econômica prevalecem sobre a da felicidade.
Antigamente os pais “metiam-se” mais nas escolhas dos filhos. A tendência liberal da modernidade vem se acentuando e gera uma sociedade desbussolada, onde faltam as referências. O discurso dos pais é : “ Faça o que você quiser, o importante é que você seja feliz”, o que na verdade só contribui para jogar o jovem no desamparo, na solidão e, mais, na obrigatoriedade de ser feliz, gerando inevitáveis e violentas pressões naquele que precisa traçar o rumo para sua vida, e que, para cumprir tão importante tarefa, certamente precisaria sentir-se acompanhado, orientado.
Outra questão é a crescente e incessante multiplicação das opções disponíveis no mercado. Elas proliferam num ritmo estonteante, acarretando muitas vezes desorientação e confusão.
Tendemos também a julgar a mudança de opção como “erro”, como algo que não deveria acontecer. Quantas vezes, independente da idade, da maturidade que se tenha, precisamos ou queremos mudar de curso na vida ?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O SALTO DE MAURREN MAGGI

Ao queimar o salto na prova do mundial de atletismo, a atleta Maurren Maggi decepciona-se com o próprio desempenho e, entre lágrimas, diz que “não treina pra
isso”, que esta teria sido uma prova “pra esquecer”, e que teria que ficar sem mais uma medalha em seu currículo.
Fico pensando. Ela diz que não treina pra isso,ou seja, para obter um resultado inesperadamente ruim. Mas se não houvesse a possibilidade de obtê-lo – o mau resultado- por que, então, treinaria? E se ela realmente esquecer este seu momento, do que ele lhe teria valido? Talvez para lembrar a ela que, apesar de seu destaque e brilhantismo, ela é uma atleta tão humana quanto qualquer outra, e por isso, sujeita a ganhar e perder.
Assim é com a vida. Se o sucesso nos fosse garantido, talvez nosso empenho não tivesse valor. Se a vida fosse feita só de bons momentos, como poderíamos valorizá-los? Podemos, como fez Maurren Maggi neste seu desabafo, negar nossos limites, esses que nos fazem humanos. Negar que nossa humanidade está inscrita em todas as nossas possibidades, mas também em nossos limites. Mas não iremos longe com isto...
É obtendo um feliz arranjo de nossas contradições que daremos o melhor salto...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

PROJETO DE VIDA

Gosto muito de dizer que a escolha da profissão é a escolha de um projeto de vida. Quando converso com jovens que buscam definir suas escolhas, um dos grandes desafios que temos é a visualização do sentido maior que está presente nesse processo.
A própria clínica é produtora de sentido. Seja na psicoterapia, ou na orientação vocacional, é atrás de algum sentido que estamos. Jean Paul Sartre, há cinquenta anos atrás, falava na importância de se criar “le project de la vie”. Hoje, a tendência é a dificuldade cada vez maior em acreditar em projetos para a vida inteira... Pois a vida, tal como ela é hoje, apresenta-se como um suceder de episódios, quase como se vivêssemos como nesses seriados, curtos episódios com início, meio e fim, que tem sequencia com os personagens começando a vida do zero, no novo episódio.
No mundo de hoje os estilos de vida, o que é considerado bom, as formas de vida atraentes e tentadoras, o que está na moda, o que dá dinheiro, o que não dá, tudo está em constante e acelerada mudança. A vida inteira, passamos a nos redefinir, nós, criaturas da pós-modernidade. Precisamos definir quem somos e isto nunca é uma questão acabada. Está sempre se refazendo essa tarefa. É por isso que o ‘projeto de vida ‘ parece tão desacreditado, ou pelo menos não soa com a mesma linearidade, constância, e consequente segurança de outros tempos. E também é por isso que estamos frente a uma humanidade desbussolada, desorientada, perdida.
Bem, é principalmente também por isso que talvez seja mais importante ainda que falemos de projetos, de sonhos, de crenças, de rumos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

FAZER O QUE SE GOSTA

Esta expressão tornou-se lugar comum, para dizer daquilo que se repete muito, a quase perder o sentido... É sempre aplicada como resposta segura às hesitações e dúvidas em relação ao futuro profissional. Simples assim: fazer o que se gosta. A fórmula hedonista leva as tintas da época contemporânea. Aliás, é tamanha a exigência que a sociedade pós-moderna faz de que se tenha sucesso, que se tenha prazer, que não se fique triste,que não se vacile, que não se perca tempo, que se ganhe dinheiro e que se ... faça o que se gosta... a que as subjetividades se vêem convocadas a se adequar, num constante esforço de reconfiguração que as conduz à incerteza e à fragilidade. Mas “tem” que se fazer o que se gosta”... Embora o “tem”, a nos indicar a obrigatoriedade, a pressão, contradiga o “gosta”.
Não vejo que seja tão simples. A escolha da profissão não é a escolha do tênis, da calça jeans ou do apartamento que se vai comprar. E mesmo nessas escolhas, aliados ao gosto, tem que estar a disponibilidade, a possibilidade,o contexto compatível , enfim, tantos aspectos para que cerquemos nossa escolha de boas chances de felicidade...
Já é bem mais complexo escolher o nosso lugar no mundo, o papel que vamos fazer, porque isso está associado com o que a gente acredita, com os nossos valores, com as nossas habilidades, a nossa personalidade, a nossa história, e, é claro, também com o que se gosta.

segunda-feira, 18 de julho de 2011



Este curta de animação é a história de um patinho de plástico que sonhava em voar...
Na vida, ideais mais ou menos distantes nos movem... Nossos desejos, nossas verdades...

NOSSA VERDADE

“Nosso tempo, sem dúvida, prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.”
Com essas palavras Guy Debord inicia “A Sociedade do Espetáculo”, obra na qual faz uma genial compreensão da nossa época, na qual as aparências, os invólucros, embalagens são cuidadosamente trabalhadas, detalhadas, aperfeiçoadas, em detrimento das essências.
A modernidade instituiu as diferenças, as pluralidades, desorganizando para sempre a ordem do mundo pré-moderno, onde a obviedade do lugar ocupado por cada homem e cada mulher no mundo era garantida e remetida à obra divina. Se a identidade era, neste mundo, tão óbvia, agora passava a ser uma obra pessoal, individual, uma construção.
Essa paradoxal relação do homem moderno e pós-moderno com a liberdade e com as diferenças evolui de tal forma no mundo contemporâneo a desnortear, tornando as escolhas não só difíceis, quanto não perduráveis por muito tempo, e a questão da verdade se esvai na busca por aparentar, representar, fazer boa imagem.
Zigmunt Bauman, em “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, nos fala: “ O mundo lá fora afigura-se ao indivíduo como um jogo, ou antes uma série de jogos finitos e episódicos, sem nenhuma sequencia definida e com conseqüências que não vinculam necessariamente os jogos que se seguem; e um jogo em que o próprio mundo é um dos jogadores...”
Em todas as épocas teorizou-se muito acerca da verdade, e o mito da caverna platônico, que desvenda por que e como alguns poucos escolhidos conseguem sair da escuridão da caverna e ver a luz, tem embasado os mais diversos pensamentos e teorias.
Mas parece que no mundo do espetáculo e da fluidez, onde nada tende a permanência, estamos todos a carecer da verdade. Fala-se : “Seja verdadeiro”, “ Seja você mesmo”, numa flagrante evidência de que não estamos muito ou nada seguros acerca de nossas identidades ou de nossas verdades. No ritmo acelerado da vida, estamos muito ocupados com os aspectos rotineiros que constroem nossos dias e pouco entramos em contato com o que é essencial. Ligados nos celulares, nas telas dos televisores, dos computadores, e desconectados de nós mesmos e do outro ao nosso lado.
Uma das missões de uma psicoterapia é justamente esta, a de restabelecer essa ponte com nossa subjetividade, com nossas questões, com nossos desejos. Com nossa verdade.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

O DISCURSO DO REI

O filme “O Discurso do Rei” é tocante. Talvez porque dele se espere, a princípio, o rei, sua realeza, seus discursos...e nos deparemos com o homem, sua simples, banal e não menos conflituada realidade humana. O personagem principal é um futuro rei atormentado por suas angústias, temores e por seu sintoma: a gagueira. Albert não se sentia capaz de ocupar o trono da Inglaterra. E era notório a todos que sua gagueira o impedia de assumir o lugar do pai, o rei falecido.
O filme aborda, com riqueza e sensibilidade, a relação terapêutica. Naquele contexto, a relação de um terapeuta da voz, ou fonoaudiólogo, e seu paciente. Mas bem poderia tratar-se da relação de um psicólogo e seu paciente, ou do médico com seu doente. A realidade mais íntima da prática clínica, esta que se apóia na determinação e na vontade de dois, daquele que ali está para curar, para escutar,acompanhar e daquele que ali está para ser ouvido, curado. Caminhada repleta de momentos difíceis, impasses, a desafiar as técnicas e os conhecimentos. Albert e seu terapeuta precisaram renovar a cada novo momento de sua relação a coragem e a vontade de ir adiante, a confiança em si mesmo e no outro, a capacidade de persistir frente aos obstáculos que se criam, às resistências frente ao risco da mudança.Sim, porque o sintoma, no caso a gagueira, por mais que representasse para Albert todo o empecilho e obstáculo, ao mesmo tempo era o conhecido. Os sintomas são sempre formações de compromisso com o propósito de
lidar com a realidade. Linda a cena em que Albert, no auge de sua angústia, grita, dirigindo-se ao terapeuta, que o provoca :”Porque eu tenho voz.”
É também assim numa psicoterapia ou numa análise. Falar, ser ouvido, recuperar sua voz, seu discurso, sua verdade. Encontrar vias mais autênticas, verdadeiras de sermos nós mesmos. Às vezes, inclusive com nossos sintomas. Outra cena interessante do filme é aquela em que o rei consegue, encorajado por seu terapeuta, fazer seu discurso, pontuado de longas pausas que, desta vez, não são pausas de bloqueio, e sim de retomada de um novo ritmo que ele imprime ao seu discurso. O terapeuta, ao cumprimentá-lo, olha-o com um olhar risonho e diz: “Você gaguejou ainda num ponto.” E o rei responde: “ Sim, eu precisava mostrar que era eu mesmo...”
Recomendo “O Discurso do Rei” como inspiração a todos os que lutam para superar suas dificuldades, para acreditar que são capazes, para assumir aquilo que são. E especialmente aos que pensam seguir as profissões clínicas, como Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Medicina, e outras. Ou àqueles que vivem o cotidiano da clínica, como eu.
A seguir, uma entrevista com o ator Colin Firth, que fez o rei. O ator,falando em seu personagem, diz que “ é comovente, porque não é só a dificuldade, mas a coragem com que ele lida com a dificuldade.” E assim é a vida. Provoca-nos a lidar corajosamente com nossas dificuldades.

ENTREVISTA COM O ATOR COLIN FIRTH, DE "O DISCURSO DO REI"

quinta-feira, 9 de junho de 2011

AS DECISÕES E A CONSTRUÇÃO DA VIDA

Por que é tão difícil decidir? Há quem se culpe por ser “indeciso”, embora saibamos que ninguém fica isento de tarefa tão carregada de impasses e angústias como esta. Não há no mundo quem jamais tenha varado uma noite insone a refletir sobre futuras decisões. Ou mesmo passado dias corroído pela dúvida ou pelos temores de uma decisão errada. Muitos dos momentos marcantes da nossa vida são construídos em torno de importantes decisões. Tomadas ou evitadas, bem sucedidas ou nem tanto... Imagino que o primeiro lampejo ou faísca de humanidade tenha se acompanhado de algo comparável a uma decisão...
As decisões mudam a vida ou a própria vida se constrói no curso das decisões. Eis aí um dos motivos pelos quais elas são tão difíceis, na maioria das vezes. Porque elas definem rumos, definem nossos lugares, os papéis que passaremos a assumir, a cara que mostraremos ao mundo.
Nossas escolhas sempre nos levam a caminhos contraditórios, onde inevitável será o encontro com o ganho, a conquista, por um lado, e, por outro, com a perda. Por isso, também, é tão trabalhoso esse processo. Ele nos obriga a elaborar nossas perdas, fazer um luto pelo que deixamos para trás ao optarmos por algo. Sempre há o que deixar para trás. De certa forma, alguma parte de nós resta com aquilo que ficou. Se não damos conta disto, não escolheremos bem, não seremos felizes em nossas decisões.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

domingo, 5 de junho de 2011

O ENEM E O SENTIDO DO VESTIBULAR

Com a abertura das inscrições para o ENEM, parece tornar-se mais séria, mais comprometida a trajetória de quem pretende uma vaga na universidade. O ato da inscrição vem a validar intenções, e o próprio sentido de estar estudando para o vestibular. É uma “cutucada” na tendência que temos a fingir que o tempo não passa.
Os vídeos abaixo tratam das tendências de mercado no Brasil e no futuro. No mundo das tecnologias e da informação, é sem dúvida sempre importante manter-se atualizado em relação ao que o mundo está pedindo hoje dos profissionais. Mas vale lembrar que o mercado se movimenta, transforma-se de acordo com as mudanças do homem, dos modos de produção, do contexto histórico. Estar atento e consciente do contexto histórico em que se vive é base de toda e qualquer intervenção que se pretenda fazer neste contexto. Bem, é fundamentalmente para isto que nos tornamos profissionais. Para intervir, modificar nosso contexto. Fabricar nossa história.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

BRINCAR E TRABALHAR

É freqüente se ouvir dizer “ desde criança eu queria ser ...” quando se trata da escolha da profissão. Proponho que pensemos aqui se realmente estas escolhas infantis correspondem ou mesmo determinam as posteriores, ou as escolhas profissionais definitivas- se é que se deve denominá-las assim, já que sempre é tempo de questionar nossas escolhas, mesmo que as mantenhamos ou reafirmemos.
As brincadeiras infantis tem a função importante de contribuir para a construção ou constituição do sujeito. Não me refiro aqui somente àquelas tão facilmente associadas à meninos e meninas, como o brincar de carrinhos ou o brincar de bonecas. O brincar pode abranger desde os primeiros movimentos de mãozinhas que exploram o próprio corpo e o corpo do outro, mãozinhas que arranham os próprios rostinhos, dedinhos que avançam ameaçando” furar” o nariz, as orelhas, os olhos, que puxam cabelos, brincos e correntes, no exercício da identidade corporal. É assim, nessas primeiras e fundamentais bricadeiras, que o bebê vai constituindo seu próprio corpo, suas primeiras raízes de identidade. Brincar não é só brincadeira. É coisa muito importante para uma criança.
É no brincar que a criança elabora suas dificuldades emocionais, encenando na brincadeira o enredo de sua vida .Crianças que não brincam geralmente estão muito doentes. Todas as crianças brincam de médico, de professor, de mamãe e de papai, de loja, de motorista, de artista, enfim, são muitos os papéis que elas assumem ao brincar. Claro que cada criança vai encenar o médico, o professor, ou seja qual for o papel, com características muito singulares, que dizem respeito ao seu contexto particular, às suas condições emocionais e à sua história, suas experiências de vida. A capacidade criativa e produtiva da criança é o próprio brincar.
O ser humano se fez humano ao trabalhar, isto desde os primórdios da sua história, assim como a criança se faz sujeito ao brincar. E desta forma, podemos compreender a relação destas duas atividades fundamentais do humano: o brincar da criança, o trabalhar do adulto.
A escolha da profissão está muito mais relacionada com as experiências que vivemos em nossas histórias, as identificações construídas em nossas relações, nossa personalidade, nossas habilidades e interesses construídos ao longo da nossa história.
Nosso projeto de vida, a escolha do papel que vamos desempenhar na sociedade, deve estar associado com aquilo que faz mais sentido para nós, o que faz a vida ter sentido.
No mundo inteiro muita gente trabalha. Muita gente não tem trabalho. Mas pouca gente tem o privilégio de professar sua ideologia, aquilo em que acredita, através do seu trabalho.

domingo, 24 de abril de 2011

REEDIÇÃO

Ao nascimento, fomos nomeados. Carregamos pela vida o nome, o corpo dotado de certas feições que não escolhemos, nossa constituição deu-se num contexto arranjado por aqueles que nos antecederam, os fatos que fundaram nossa história tiveram outros por protagonistas. Não inventamos nada disto. Quando crianças, disseram-nos as palavras que aprendemos a repetir, deram-nos uma versão da vida, do mundo. Um ideário para crer, os livros que devíamos ler, o comportamento que devíamos adotar. Acostumamos o ouvido com a música preferida por nossos pais, o paladar com suas preferências ou regras nutricionais, nossos pés trilharam os caminhos por eles indicados.
Quando, em meio ao lento e emocionante processo pelo qual crescemos, nos vemos em outro momento, frente às possibilidades, frente às escolhas, frente a nós mesmos, à vida que desejamos construir, surge um estranhamento e uma angústia. Estranhamento com aqueles pais, meras pessoas, de carne e osso, agora. Estranhamento com o mundo, que não era bem aquele no qual acreditáramos, com este que vemos no espelho – quem será? – com tudo, enfim, que antes nos parecia habitual e conhecido.
Torna-se, neste momento, necessária uma reinvenção, uma reedição de nossa própria história, de nossa visão de mundo, de nós mesmos e de nossos projetos, que não mais aceitam fantasias. Queremos colocar os pés na realidade do mundo, escolher nosso lugar, ocupá-lo, fazer um papel no cenário da vida. E então, encorajados, saímos da casa protegida e vamos prá rua, pro mundo.

domingo, 3 de abril de 2011

MARC CHAGALL, THE DREAM

PRODUZINDO SENTIDO

A essência do meu trabalho como psicóloga clínica é a construção de sentido.
Digo construção porque é isso mesmo, é processo, é movimento,é a busca de novos significados para tudo aquilo que trazemos tão adormecido ou tão bem acomodado dentro de nós mesmos.
A psicoterapia, que tenho trabalhado com jovens e adultos desde 1985, produz sentido, ressignifica o que tendemos a repetir, visa criar novos arranjos com nossos sintomas ou nosso jeito de ser no mundo. É a busca da verdade, que não é absoluta,infalível ou sequer conhecida. “ A verdade diz : EU”, segundo Lacan.
A palavra clínica, de origem grega, significa “inclinar-se sobre”, ou seja, inclinar-se sobre o sujeito, partindo do acolhimento e da escuta, operando na verdade do discurso,trabalhando para a produção de novas versões sobre os mesmos fatos, operando com as motivações conscientes e inconscientes do sofrimento. Problemas ou dificuldades bem atuais e muitas vezes bem conscientes que, ao longo do processo terapêutico, vão remetendo a conflitos mais antigos e não tão conscientes. Uma experiência de transformação,de abertura para novos sentidos.

domingo, 20 de março de 2011


DESENHO DE WILL EISNER

REFAZENDO O DESENHO

Alguém acessou meu blog pesquisando no Google através de um questionamento: “o que é mais importante na escolha de uma profissão: a vocação ou as perspectivas financeiras?” Um questionamento que traz em seu âmago uma velha dicotomia. Ou temos felicidade ou dinheiro, ou temos amor ou segurança, ou isto ou aquilo, como diria Cecília Meireles. Será que é realmente possível que, ao optarmos, como quem coloca um x na opção certa, por ganhar mais dinheiro, o acerto seja tão completo que realmente tenhamos, então, dinheiro, em detrimento de outra opção, como por exemplo a chamada realização – que seria,por outro lado, realmente o outro lado, ou seja, a mais completa e paradisíaca condição de vida feliz ?
Não, na vida, não é tão simples como o x na escolha certa. Às vezes nem isso é tão simples, já que quando estamos frente a várias escolhas, mesmo supondo que uma delas esteja certa, ficamos confusos, divididos, inseguros. Quando, então, não podemos contar com este critério a nos nortear, bem, aí fica difícil... Mas o que deve nortear nossa escolha, então? Se não há garantia absoluta de tudo certo, de tudo perfeito, de dinheiro no bolso, já que tudo isso é conquista, é construção... Que a gente faz, com as nossas atitudes, com o nosso trabalho, com a nossa criatividade, com o nosso coração. Abraçando a nossa causa, bancando nossas escolhas.
É preciso coragem para escolher. Para viver. Acho que o que deve fundamentar nossa escolha profissional é o que sabemos de nós mesmos. Isso não significa que não haja sempre mais e mais a conhecer. E mais e mais que descobriremos que não sabíamos ainda. Ou que nunca saberemos... Mas é olhando para nós mesmos, assumindo quem somos, e não, como tantas vezes acontece, buscando aquilo que gostaríamos de ser... A partir daí, nos aprontaremos para desempenhar um papel na sociedade, que cumpra sua função de nos garantir sustento, satisfação pessoal e inscrever nossa participação na mudança do mundo. E é esta inscrição no mundo que é realmente o mais importante em toda profissão.Sua mais nobre razão de ser...
Ainda com Cecília Meireles:
" Construirás os labirintos impermanentes
Que sucessivamente habitarás.
Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fadigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
..........
Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.”

quinta-feira, 17 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

A FELICIDADE

Num mundo hedonista como este em que vivemos a busca do prazer não tem trégua.E ainda quando, percorrida a trilha, realizados os esforços, pensamos ter alcançado a linha de chegada, percebemos, cheios de humana frustração, que há mais caminho a percorrer. A consumação do almejado prazer está sempre mais adiante, num horizonte que nos parece inalcançável.Nós, homens e mulheres deste pós-moderno mundo, estamos sempre a nos deparar com a frustração, e com a distância sempre renovada entre o que queremos e o que podemos, entre o que desejamos ter e o que conseguimos , entre o que gostaríamos de ser e o que realmente somos.E aí estamos nós, com a sensação de estarmos sempre atrás de nós mesmos. A tão sonhada felicidade não passará de tema de novela ou de comercial de televisão?
Freud já dizia em "Mal Estar na Civilização" que todo programa do princípio do prazer é impossível de ser executado,já que todas as normas do universo são-lhe contrárias.Três são as fontes que ele aponta neste texto brilhante e sempre atual para explicar o sofrimento humano: o poder da natureza, a fragilidade humana, e a relação com os outros. A civilização, há milhares de anos atrás, transformou o animal em homem por meio da renúncia aos instintos e do trabalho.
Na vida humana,pode-se ver, essa questão da felicidade é sempre uma grande armadilha.É assim que caímos na armadilha quando confundimos felicidade com prazer absoluto, ser feliz com ser capaz de obter algum desses objetos que a indústria e o mercado travestem de objetos do desejo, quando temos a ilusão de que seremos felizes se nada nos faltar. Pois o humano se constitui nas faltas, no imperfeito, naquilo que não é o ideal. Mas que é.
Bem,acho que é justamente neste campo que a Psicanálise e a psicoterapia podem operar. Acompanhando o sujeito na sua busca pela felicidade. Essa felicidade possível que experimentamos no momento do encontro com a nossa verdade,encontro este tão mais feliz quanto mais pudermos reconhecer-nos em nossas possibilidades, e nos arranjarmos o quanto melhor pudermos com aquilo que somos. A felicidade inclui, ainda, a capacidade de ir além da descoberta de si mesmo. Ser feliz é também incumbir-se da missão de colocar no mundo esta descoberta.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SOMOS FEITOS DE LAÇOS, SOMOS FEITOS DE HISTÓRIA

Onde começa tudo isso? Nossa história? Um casal que engravida. Sim,mas o casal possuía por sua vez sua própria história, iniciada quando outro casal havia engravidado. Que por sua vez era fruto da história de outro casal, e só não direi assim por diante, já que se trata de um retrocesso no tempo que se perde na história do próprio homem. Eis aí a essência do que faz do homem esse animal diferenciado do resto da natureza. Um animal que tem consciência, que é determinado pela história e ao mesmo tempo é capaz de construir, de criar sua própria trajetória.
Voltemos ao casal. Que poderia estar feliz ou poderia estar infeliz, poderia se amar, poderia estar junto ou separado, será que teriam planejado aquela gravidez, teria sido para eles uma surpresa, nesse caso bem-vinda, ou não, teriam se emocionado, se abraçado, ou teriam recebido a notícia com angústia, teriam sentido medo da vida que não sabiam como seria, teria ela, a mãe ficado sozinha, e nesse caso sentido medo e desamparo? Estaria o casal numa situação financeira estável ou confortável, ou estariam eles desempregados, e nesse caso sentiram-se inseguros, teriam pensado em abortar a criança? Queriam menino ou menina? O que passaram a imaginar sobre seu filho? O que desejaram para ele, que planos construíram para a criança, que nome lhe deram...
Poderíamos continuar imaginando nosso casal em cada momento dos tantos momentos que tiveram para viver em suas vidas com seu filho, desde que tiveram a notícia ou confirmação da gravidez, até cada semana da gestação, depois no parto, teria sido normal, cesário, a criança, como teria vindo ao mundo? E que mundo a teria recebido?
Somos feitos de laços, somos construídos nos laços,esses que se criam entre os casais, entre pais e filhos, entre as pessoas. Desde o primeiro toque, o primeiro olhar, as primeiras palavras, as primeiras sensações. E pela vida afora, somos feitos desses laços...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

SE SEU NOME NÃO ESTAVA NA LISTA...

No telejornal, a reportagem abordava o tema: “O que fazer quando seu nome não está na lista de aprovados do vestibular?” Os diversos especialistas, todos da esfera didática, aconselhavam que se fizesse um balanço de pontos fortes e fracos e, a partir daí, se traçasse uma estratégia. Os depoimentos de vestibulandos enfatizavam a persistência, a necessidade de mais horas de estudo e menos lazer. Para, então, de uma próxima vez, conseguir o resultado almejado. Indagado pelo repórter acerca de como saber a hora de desistir – como se “a hora de desistir fosse um momento lógico e natural em todo percurso, como se apenas a dúvida consistisse em saber o momento exato de fazê-lo – um professor salientou o quanto era importante saber se este era o “seu sonho”. Se era o “seu sonho”, então que não desistisse.
Bem, a mim me chamou a atenção que não foi mencionada a necessidade de cada um olhar para si mesmo, procurar se conhecer melhor. Será que este jovem que está reincidindo em reprovações, geralmente para o mesmo curso, não estaria precisando fazer uma parada para se questionar um pouco? Permitir-se entrar na zona de conflito neste caso é fundamental... Ainda que nos traga algumas dificuldades. O filósofo Heráclito, ao utilizar a metáfora do rio onde a água nunca é a mesma, já nos mostrava que a vida é movimento constante.
Portanto, se você não foi classificado no vestibular, faça, sim, uma auto-avaliação, onde você foi bem, onde não foi bem, mas vá além disso. Pense o que estava em questão para você naquele vestibular, pense se você já alcançou uma certa clareza sobre quem você é e o que você quer para a sua vida. Digo uma certa clareza, já que estas são as questões que permeiam nossa vida, e em cada fase dela estaremos nos perguntando e nos respondendo de novo. Nunca saberemos o suficiente... Daí porque é de se duvidar de quem não tem dúvida...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011



A CONDIÇÃO HUMANA, DE MAGRITTE
Sobre a tela, o pintor filosofou: " Eu coloquei, frente a uma janela, vista dentro de um quarto, uma pintura retratando exatamente a parte da paisagem que estaria escondida pela tela... Que é como vemos o mundo:nós o vemos como algo fora de nós mesmos, mesmo sabendo que é somente uma representação mental dele que experimentamos dentro de nós mesmos..."

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A PRODUÇÃO DA DIFERENÇA

A primeira postagem do ano. Uma certa demora... O tempo que passa quando a gente sente que o tempo passa... O blog fez um ano. E, como eu já disse, há, neste percurso, uma busca de identidade. Este é o blog de uma psicóloga clínica. E o que se faz na clínica? Produz-se sentido na clínica. Trabalha-se com história. Bem, pode-se ver a história sob este viés da determinação, do que está determinado, daquilo que tende a se repetir. E, ao mesmo tempo, o que não quer dizer num mesmo tempo, a história é diferença, é a invenção, é o rumo inesperado, é o surpreendente, a criação do novo. Pois o que faço na clínica, como psicoterapeuta, é percorrer esta trajetória histórica com aqueles que me procuram para que eu seja algo como uma intérprete. E o que buscamos juntos é justamente a diferença. Pois quando alguém busca uma psicoterapia, certamente quer se desenredar de suas determinações, de suas repetições, daquilo que parece conhecer tão bem sobre si mesmo, e que, inevitavelmente é aquilo que não conhece de si. Paradoxalmente, e justamente o que incomoda e intriga, é que possamos ser tão velhos conhecidos de nós mesmos e, ao mesmo tempo, tão estranhos de nós mesmos.